segunda-feira, maio 30, 2005

Não me aporrinhe e outros assuntos

Não me aporrinhe com suas idéias volumosas, extensas, largas, idéias que se não contentam com uma simples folha de almaço, mas, de fato, um circunlóquio de m..., que me satisfaço com a embriaguez simples e objetiva de uma talagada de cachaça, e, caso não acredite, pergunte ao Bebeu, pois ele sabe de tudo, inclusive daquilo que ninguém precisava saber. E o Bebeu, embora não seja dedo-duro, não guarda segredo em razão de um trauma familiar que o deixou desconcertado por muitos anos, sem conserto nos anos seguintes e com defeito nos dias de hoje.

Por outro lado, e isso não quer dizer que eu tenha mudado minha preferência sexual!, acho você um cara bastante curioso, mas uma curiosidade bastante desagradável, vou dizendo logo, pois ficaria muito chateado se você considerasse minhas palavras um elogio.

Quanto à cachaça, mande-me uma daquelas excepcionalmente boas, condição essencial para continuar a dar-lhe esse mínimo de atenção.

Agora, não esqueça de dizer ao Fuxica que preciso saber em que condições anda aquela churrasqueira que só conseguimos comprar depois fazer uma vaquinha que ao diminutivo não fez jus e que tem sido mais usada que mictório de botequim, pois vou dar uma festa e gostaria de usá-la para fazer um churrasco para galera. E não demore a me dar a resposta, porque já fiz a lista e a turma já começou a pagar a prestação da carne e da cerveja.

Mudando de assunto. Fique atento e não descarte a possibilidade de virmos a fazer um concurso para a escolha do samba do bloco que pretendemos fundar qualquer dia desses e cujo nome também vamos escolher quando soubermos qual será o seu primeiro enredo. E já até andei pensando sobre esta parte do assunto e me ocorreu algum tema que se enquadre nas preocupações políticas que todo cidadão consciente deve ter e agracie devidamente a importância do futebol na estruturação de nossa sociedade polisensível e multisentida.

Pensando nisso, fiz uma pergunta ao Polenta que não a entendeu e trouxe à baila um versinho vagabundo que agora reproduzo: “Se és alto, forte e bonitão, enfia no c... o que tens na mão”, e pensei imediatamente que você ficaria imaginando em que lugar esse versinho seria direta e imediatamente entendido.

Aí, pede ao Lambuza pra dar um pulo lá na esquina hoje que o Fideca disse que vai quitar todas as divídas dele com a herança que recebeu de um tio de um vizinho que deu mole enquanto agüentava o duro, e, se passar de hoje, é muito provável que não sobre nenhum tostão pra contar história, pois o Fideca não é de andar com o carro em quarta ou quinta marcha pra economizar gasolina!

Soube, outrossim, que empacou a mulher do Manguça e que não há forma de fazê-la dar um passo pra parar de dar do jeito que está dando enquanto o cara tá fazendo serão lá em Meriti!

Agora, vou desligar porque, mesmo tendo ligado pra você a cobrar porquanto você é o único babaca que aceita esse tipo de ligação, já estou com o saco cheio desse papo pois, mesmo calado, você é chato pra cacete!

quinta-feira, maio 19, 2005

Gostaria de poder dizer que qualquer semelhança teria sido mera coincidência, mas não posso!

Não sei dizer se Agracobaldo chegou a ser, em algum trecho do seu existir, histriônico, híbrido ou histérico, mas foi um homem hipocondríaco, conforme certidão oficial emitida pelo órgão público que - para não lhe conceder licença remunerada para tratamento de saúde - sempre afirmou que esse era o seu problema; bem, agora fiquei em dúvida: certidão ou certificado?; não, não, não... certificado tem o meu computador, que é histriônico, híbrido e histérico, mas não é hipocondríaco porque, de fato, sofre mesmo de tudo...

Neste momento, não posso esconder que, por desencargo de consciência, acabei levando a minha dúvida terminológica ao mui ilustre e provecto professor Edelvásio, mais conhecido entre os ex-alunos lá do colégio como “Repolhão”, e o professor não tira dúvidas pelo telefone, portanto, tive de ir visitá-lo e ele, após as habituais emissões ruidosas e bodosas que lhe motivaram o apelido, e não arrefeceram com a idade, disse-me que seria melhor usar laudo ou atestado.

Mas, como esclareci minha hesitação vocabular e já posso dar-me ao luxo de soltar a respiração e de desfrutar desse ar porque retornei às nossas poluídas ruas e avenidas, vamos voltar ao Agracobaldo propriamente dito.

Vou explicar logo a origem do seu antenome: o prenome da mãe dele é Agraciana e o nome de batismo do pai dele é Aderobaldo.

Em razão da importância do tema subjacente, a combinação de nomes domésticos na hora de escolher o que será dado ao filho, não posso deixar de fazer uma pequena digressão. O resultado da mistura nem sempre traduz de modo harmônico e melodioso a amorosa intenção dos pais e, muitas vezes, por absoluta falta de sensibilidade ou de compreensão, ou pela falta de ambas, detemo-nos simplesmente nos aspectos externos e menores da questão e relegamos a plano inferior os sentimentos que nortearam a escolha.

Mas, vamos retomar o assunto principal.

A irmã do Agracobaldo se chama Celina, bonito nome, não?!

Preciso declarar, no entanto, que não é um nome muito cotado atualmente nos registros, mas, de qualquer forma, não me parece justo negar-lhe certa beleza.

Voltando ao Agracobaldo.

Agracobaldo casou com a Delesfânia e teve um filho cujo nome é João, e teve também uma filha que se chama Agracesfânia, e, se bem que seja totalmente dispensável a observação, faço absoluta questão de observar que vale em relação ao nome da Agracesfânia o que já disse sobre o do Agracobaldo, e adiante ainda falarei um pouco mais sobre a moça, mas fazendo outra observação e, neste caso, indispensável.

Agracobaldo já teve muitos empregos, mais sempre foi ajudante, e começou a carreira como ajudante de ajudante, depois, autopromoveu-se e passou a ser ajudante e, em ordem cronológica, foi: ajudante de caminhão, de pedreiro, de pintor, de ladrilheiro, de bombeiro, de encanador, de mecânico, de sapateiro, de cozinheiro, de copeiro, de confeiteiro, de doceiro, de vidraceiro; mas, após ter trabalhado como ajudante de um cabo-eleitoral de um candidato que conseguiu se eleger e de ter o cabo-eleitoral ganhado um cargo de confiança, este o empregou como seu ajudante de fé, e nunca mais o Agracobaldo ajudou alguém.

Porém, em compensação, começou a ajudar o próprio bolso e o de parentes de um modo avassaladoramente caudaloso e a família até já se mudou para uma imensa cobertura que o Agracobaldo adquiriu na Barra da Tijuca, e à vista.

Como prometi alhures, torno a falar da Agracesfânia.

A mudança de residência causou-lhe sérios problemas psíquicos e, seguindo a orientação de um afamadíssimo e caríssimo profissinal, Agracobaldo descolou uma nova certidão de nascimento pra ela que passou a se chamar Aline, o que a fez recuperar plenamente e de pronto o equilíbrio psicológico, e não há risco de a moça ter alguma recaída pois eles esqueceram totalmente todos os pobres e miseráveis vizinhos lá dos cafundós onde moravam e os parentes, como não querem perder a boquinha, não contarão nada a ninguém!

Neste ponto, sou compelido a colocar uma interrogação que me perturba o espírito: Por que, quando arranja dinheiro, a primeira providência da família que morava lá nos cafundós é ir morar na Barra da Tijuca?

Mesmo me sentindo até mais confuso e nem um pouco aliviado com a verbalização da questão que me fustigava intimamente, sou forçado, para não roubar mais o seu tempo, a tornar à vaca-fria.

Agracobaldo sempre bebeu, e muito, mas bebia cerveja barata e pinga vagabunda, agora, bebe cerveja cara e uísque de primeira; antes, tomava porre, agora, fica de pileque.

Agracobaldo fumava desbragadamente mata-ratos, atualmente, só consome charutos importados; adorava um carteado, agora, joga na bolsa; mas, continua prevaricando a dar com o pau e passou a se masturbar vendo CD de sexo explícito, o que, anteriormente, fazia sem a motivação visual proporcionada por uma tela de sessenta polegadas e sem a auditiva fornecida por centenas de watts.

Agracobaldo é adepto do assédio sexual e adora jogar pelada pelado, fazer churrasco completamente nu e cagar e andar pra quem não está presente.

Apesar de ter sido um sem-tudo e de ter desfilado com bandeira do respectivo movimento, assim que assumiu sua nova condição sócio-econômica, Agracobaldo mostrou que, além das taras, quer dizer, dos hábitos eróticos já mencionados, é tarado também por uma negociata - que o diga seu parrudo patrimônio conseguido num abrir e fechar de olhos! - e ferrenho defensor do nepotismo e de vários outros neologismos coincidentemente terminados em -ismo: partidismo ou faccismo, amiguismo, grupismo etc. etc. etc.; embora – se fosse interjeição!, retrataria o real pensar do Agracobaldo-, diante de câmeras e microfones, apóie medidas moralizadoras e capriche no politicamente correto e tanto, que após quase ter sido assaltado recentemente, e assalto evitado pelos oito guarda-costas e pelo carro blindadíssimo, mandou divulgar pelos meios de comunicação a declaração de praxe:

- A idéia de sair da nossa bela e acolhedora cidade nunca passou pela minha cabeça e nunca há de passar, pois nossa violência urbana é exatamente igual a que existe em qualquer outro grande centro urbano do mundo! e a eliminaremos por completo quando fecharmos todas as feridas provocadas pelas diferenças sócio-econômicas que maculam a nossa sociedade!

De tanto ouvir tais declarações, sinto-me, permita-me o desabafo, imensamente feliz por nunca ter tido a oportunidade de visitar um desses grandes centros e por ter uma indissimulável queda por ungüentos e emplastros!

Mas, ao Agracobaldo.

Agracobaldo foi batizado, crismado, fez a primeira comunhão e casou no religioso, mas, para fazer jus à sua nova posição social, passou a freqüentar também terreiro e centro espírita.

Aconselhado pelos novos e caros amigos, até lendo Agracobaldo anda e, para se sair melhor nessa atividade, fez um curso relâmpago e ultramoderno de alfabetização multivalente que lhe conferiu diploma universitário, credenciou-o a usar o corretor ortográfico do computador e autorizou-o a tecer públicas críticas às obras dos grandes autores nacionais e estrangeiros e a falar sobre política, sociologia, filosofia, economia, estatística, genética e futebol, não necessariamente nessa ordem.

Delesfânia, de acordo com o depoimento dos amigos mais chegados, não precisou de nova certidão porque todos a chamam de Fânia e ela, e não sei a razão, gosta muito.

Ontem, o Agracobaldo assumiu definitivamente sua nova e superior condição sócio-comportamental e seu foro incomumente privilegiado, pois, telefonou-me para reclamar de um comentário que fiz numa roda de novos amigos dele. Eu disse que o Agracobaldo era um excelente exemplo do cidadão que vai de uma classe inferior a uma superior em nossa estrutura sócio-econômica e declarei que a Aline tinha esse nome graças a uma nova certidão.

Em função do que eu disse, tratou de me informar o Agracobaldo que já contratou os melhores advogados e que vai me processar cível e penalmente até que eu reconheça que disse uma grande besteira e que foi indevida a minha declaração sobre a certidão nova da Aline!

Mas, deu-me uma honrosa e lucrativa opção.

Se eu reunir os referidos amigos e lhes disser que o Agracobaldo, desde que nasceu, é do jeito que é e jurar que a certidão da Aline é tão boa quanto a de qualquer outra pessoa idônea, nomear-me-á, na quota do político que ajudou a eleger, diretor-adjunto da Agência de Desenvolvimento de Recursos Difusos e Não Incluídos em Outras Agências de Desenvolvimento de Recursos Específicos, com vencimentos de muitos salários mínimos e pagos vinte e quatro vezes por ano, fora o décimo terceiro, e com verba de gabinete, carro zerinho e blindado e com motorista, mais uma substancial e extensa lista de auxílios na qual o único que é quase irrelevante é o auxílio-educação, pois nem aqui foi possível vencer o paradoxo nacional.

Não podia esquecer as várias viagens a Miami que Agracobaldo, Fânia, João, Aline, sogros e sogras já fizeram, e a próxima ida já está agendada, e bem demonstram o sucesso de tais viagens os muitos filmes e fotos que são mostrados em comes e bebes que em sua cobertura são promovidos exatamente para mostrá-los.

Entretanto, não posso encerrar esta resenha sem manifestar minha perplexidade em relação a um aspecto. Vimos que o Agracobaldo foi sensível e eficiente ao tratar do problema que a Agracesfânia afligiu e a Aline surgiu bela e fagueira, e sem traumas. Em tal contexto, confesso que esperava que o Agracobaldo renascesse Pedro, Cláudio ou algo assim, mas, não, permaneceu Agracobaldo, Dr. Agracobaldo, é lógico, e nem mesmo apelido admite! Curioso, não?!

quarta-feira, maio 18, 2005

Só na memória

Vi aquele casarão miríades de vezes, senti-me estranhamente ligado a ele em muitas e diferentes ocasiões, surpreendi-me admirando-o nos mais diversos e inesperados momentos, esquadrinhei-lhe a arquitetura em inúmeros, incontáveis momentos, preenchi inumeráveis vazios rabiscando traços esparsos e incoerentes em folhas de papel e, por fim, reparei que não eram esparsos nem incoerentes, mas algum detalhe da fachada do casarão que estava retido na minha memória: cor; o feitio das janelas; os dois balcões, mísulas e balaustradas; a estranha cornija, os relevos indecifráveis e os arabescos intrigantes; os três degraus que permitiam chegar à porta de entrada que ficava protegida pelo alpendre que, por sua vez, se apoiava em duas salomônicas e delgadas colunas com bases e capitéis suaves e a sóbria luminária que dele pendia, e porta feita de nobre madeira e com ferragens de estilo, fechadura, maçaneta, aldraba...

Se não era um casarão atípico, insólito, diferente de todos os demais, também não era igual, idêntico. Apesar de tantas similitudes com outros casarões, de tantos pontos em comum, tinha peculiaridades, sutilezas e nuances que o tornavam insondavelmente especial, e muito.

Vi sua fachada fustigada por raios de sol, açoitada pela chuva, imersa em noite espessa, e a vi sorrir como se percebesse a primavera, e a vi ficar hirta, tensa, como se a incomodasse o frio, e a vi iluminada e festiva, enlutada e chorosa, e a vi trajada de maneira singela e elegantemente vestida, e a vi mascarada e carnavalesca, e alegremente natalina...

Sempre, de algum modo, por algum ângulo, em algum sonho ou divagação, eu vi aquela fachada e estive à procura daquele casarão.

Indaguei muito aqui e ali, fiz perguntas aos mais antigos, compulsei textos e anotações sobre as histórias da cidade, e fui a becos, ruas e avenidas de muitos bairros onde casarões com aquela fachada podiam existir ou ter existido.

Busquei indícios e informações em arquivos públicos, escolas, bibliotecas, estúdios, ateliês, grêmios, galerias, escritórios, congregações, secretarias, templos, terreiros, consultórios, botecos, museus, jornais e até em prostíbulos. E consultei terapeutas, astrólogos, pais-de-santo, sacerdotes, médiuns, rabinos, imames, pajés. E recorri a bruxos, magos, feiticeiros, ciganas, mandingueiros, cartomantes, quiromantes, videntes.

Cheguei mesmo a contratar um desenhista e, baseado nas informações que lhe dei, ele fez um desenho aproximado da fachada, até bem aproximado, mas não um desenho perfeito porque algo faltava, e eu tinha certeza disso, mas nunca consegui dizer-lhe o que era.

Em muitas ocasiões, reuniões, eventos, cerimônias, palestras, exposições, congressos, bodas, aniversários, almoços, jantares, recitais, festas, festivais, apresentações, encenações, mostrei o desenho a muitas pessoas e das mais diversas condições sociais, e algumas, mesmo eu nada tendo dito, disseram que poderiam dizer-me que casarão era e onde ficava se estivesse no desenho aquilo que eu sabia que faltava mas não sabia dizer o que era.
Algum tempo depois, bastante, creio, lembrou uma fotografia daquele casarão que devia estar num velho álbum de família e procurei por todos os velhos álbuns, mas, estava vazio o espaço que devia estar ocupado pela foto.

terça-feira, maio 17, 2005

Por que eu não fui logo pentear macacos?!

Em razão de um equívoco diminuto, uma bobagem, se tanto, a mocinha olhou pra mim e berrou:

- Vai pentear macacos!

Foi o que ela me disse, eu juro!

- Vai pentear macacos!

E me deixou atônito, perplexo, pasmo, boquiaberto, abismado, aturdido, estupefacto etc. etc. etc., e nem lhe preciso dizer o porquê, não é?!

E ela percebeu, e tornou berrar:

- Porra, Mané?! Num entendeu?! Vá pentear macacos!

Minha perplexidade, obviamente, reduziu-se de modo drástico após a segunda intervenção da jovem.

E ela também notou e comentou:

- Agora, pelo menos, não está com aquela cara de babaca... Mas vai logo pentear macacos, merda!

Embora só houvesse restado um mero fiapo de estupefação em meu semblante, algo ainda havia, e esse algo, mesmo ínfimo, a fez vacilar por um instante, mas o suficiente para que eu tomasse coragem e lhe perguntasse:

- Por que você me mandou ir pentear macacos?

E ela, mui modernamente, esclareceu:

- Pô, cara... você tem pinta de ser velho pra caralho, aí, se eu dissesse o que digo sempre quando alguém me deixa puta da vida, você não ia entender porra nenhuma, aí, me lembrei do que diz a minha avó quando alguém enche o saco dela! Sacou?!

Por que eu não fui logo pentear macacos?!

CONSTATAÇÃO, NOTA, RECADO e PÓS-ESCRITO

Vou ficar com CONSTATAÇÃO, NOTA, RECADO e PÓS-ESCRITO, e olhe lá!, que não sou louco o bastante pra me atrever a ir mais longe com toda essa gente de peso que anda esmiuçando e comentando a política de quotas para negros e pardos nas universidades brasileiras.

CONSTATAÇÃO
Meu neto, que não é bobo nem nada - depois dessa afirmação, não posso, em sã consciência, deixar de me dizer: “Vai ser coruja assim na ...!” -, já se está declarando pardo em tudo que é festa, encontro, evento, competição, disputa, jogo, pelada, show, pagode, micareta, e-mail, bilhete, carta, memorando, circular, namoro, quer dizer, ficação - é o substantivo que sugiro pra esse lance de ficar!: “tô ficando com Fulana...” -, e passou a exigir que todos os seus amigos e colegas o chamem de Pardão, e que nós, seus ascendentes, o tratemos também desta forma, dizendo, inclusive, “vou chamar o Pardão” ou “o Pardão não está” quando o telefonema for pra ele, e, traduzindo pro nosso idioma a cifrada linguagem da galera jovem, eis a justificativa que ele me deu:

- Não quero passar pela vida em branco!

Sobre o motivo de ter escolhido Pardão e não Pardo ou Pardinho, a explicação é simples: coisa de adolescente!

Mas, por outro lado, ele já me confidenciou que está havendo um baita curto-circuito na comunicação no meio da galera porque surge um novo Pardão a cada instante - é claro, corujice de lado, que não é só ele que não é bobo, e é bem provável que nem seja o mais esperto da turma! -, e cada novo Pardão surge com papel passado e tudo, até o Fredrik, vulgo Fred, virou Pardão e os pais dele, o Björn e a Ingegärd, já ostentam encaracoladíssimas e negríssimas cabeleiras que, segundo os mais exaltados concorrentes, são moderníssimas perucas suecas!

NOTA
Por expressa e irrecorrível determinação do meu neto, já estamos todos, ele e os seus ancestrais dele que por aqui ainda perambulam, usando escurecedores epidérmicos produzidos com células-tronco e enroladores capilares de última geração, mas, por óbvias razões, de usar o enrolador fui dispensado.

RECADO
Você que não é negro nem pardo, mas que também é pobre, subnutrido, esquecido, desprezado etc. etc. etc., e que fez – como eu sou da antiga - o primário, o ginásio e o científico – ou o clássico - em escola pública, que tem mãe, pai, tios e tias desempregados, que é durinho da Silva e dos Santos e dos Santos e da Silva, como não quero ser chulo, frite-se...
Mas, e não sei se lhe vai servir de consolo, quem sabe, daqui a uns quatrocentos ou quinhentos anos, um descendente seu e membro emérito do Movimento dos Não-Afro-Descendentes ouça um formal e emocionado pedido de desculpas e seja beneficiado por uma política de quotas nas universidades brasileiras para os que não são negros nem pardos!?
E reze pra que não fique a coisa ainda mais dessa ou daquela cor daqui pra frente, e escolha você a cor porque não quero ser acusado de ser politicamente incorreto!

PÓS-ESCRITO
Quotas... Cartilha... Estatuto da imprensa... Estatuto do cinema...

segunda-feira, maio 16, 2005

É a vizinha!

Minha vizinha é demais! demais! demais!

Escultural, gostosa, bonita, cheirosa, tenra, macia, saborosa, apetitosa, e de frente, e de costas, e de lado, e falando, e calada, e acordada, e dormindo, e em pé, e sentada, e andando, e parada, e a cor é a ideal, e o peso, e a altura, e a largura, e a espessura, e ela é maravilhosa, deliciosa, sestrosa, quando está séria, quando está sorrindo, quando está de bom humor, quando está puta da vida...

E mais, aliás, o mais importante de tudo, é a vizinha!

Quando me equilibro sobre o vaso sanitário e me estico todo pra vê-la tirar a roupa por uma fresta do basculante do banheiro é o ápice... o clímax... o cume... o apogeu... o auge... porque ela não tira a roupa... E L A T I R A A R O U P A!!!... sapato por sapato... pulseira por pulseira... anel por anel... brinco por brinco... cordão por cordão... peça por peça... e, por último, meia por meia... e com paradas... poses... trejeitos... meneios... movimentos... afagos... é a vizinha!

Nem sei mais o que dizer! poque ela é abundantemente certa... adequadamente farta... deliciosamente volumosa... fantasticamente distribuída... carnudamente estruturada... sedutoramente... sexualmente... tesudamente... é a vizinha!

Quando ela demora um pouco mais pra arremessar a cabeça para trás e tirar aquelas mechas de cabelos que cobriam seus rijos, lindos, pontudos, apetitosos, tentadores seios, eu vou ao desespero... é a vizinha!

E tudo isso antes do banho... e o banho eu só imagino porque não dá pra ver... mas quando retorna molhada e, sentada na beirada da cama, começa a se enxugar... é alucinante... fascinante... inebriante... deslumbrante... primeiro, enxuga os pés, erguendo voluptuosamente cada perna... depois, as pernas, flexionando-as e esticando-as, alternativamente... a seguir, enxuga as coxas, e enxuga, e enxuga... a seguir, fica de pé, com as pernas abertas, e enxuga a ..., a vulva, que mantém bem raspada há um mês, e a enxuga toda, profundamente, largamente, completamente, sofregamente... dela vai à bunda, e quando a empina um pouco e entreabre com uma das mãos as nádegas pra enxugar toda a fenda... eu me derreto... desliza, logo após, a toalha pelas costas... e delas vai aos seios, os avalia, os pesa, os apalpa, e os enxuga...

Ai!ai!ai! ai!ai!ai! ai!ai!ai!
Socorro! socorro!, caraaaaalho... o vaso quebrou e eu tô todo fodido...

sábado, maio 14, 2005

Daquele dia em diante

Fosse eu cismado, desconfiado, escabreado, quer dizer, um pouco mais, estaria em situação delicada, afinal, aquela mulher me abordou sem mais nem menos no meio da rua, e me segurou firmemente o braço, e não me deu a menor chance de escapar, e não disse nada.

Foram segundos, talvez minutos, de estupefação, perplexidade e indecisão, e ela só me fitava, ou melhor, me esquandrinhava por inteiro sem mover os olhos, ou seja, mantendo os dela fixamente dentro dos meus. Como é que pode? Não sei, mas tenho certeza que me estava esquadrinhando completamente.

O lugar era muito movimentado, mas ninguém nos deu especial atenção, portanto, não devia ser uma cena de todo incomum e minha cara não devia estar mostrando a interrogação que fazia da minha alma uma grande pergunta.

Após aqueles segundos, quiçá minutos, esqueceram-se estupefação, perplexidade e indecisão, e ela me fez começar a andar, acompanhando-a, e eu fui...

Nada tinha sido dito e ela já não me olhava com aquele olhar que enxergava minhas entranhas.

Os trajes dela não eram sofisticados nem vulgares, eram trajes adequados e que nela ficavam perfeitamente bem, e esta é a melhor definição que consigo.

A idade? Tinha a mesma idade que eu, exatamente a mesma. Você, provavelmente, perguntará como é possível alguém ter tanta certeza em relação à idade de uma mulher?! Mas, não é necessário responder.

A caminhada não era apressada e meu espanto inicial, curiosamente, não se transformou em nervosismo, mesmo com a mão dela ainda segurando o meu braço. E não posso deixar de dizer que, embora o segurasse com indiscutível firmeza, não me machucava nem mesmo causava algum desconforto.

Como eu disse, o espanto já se fora fazia algum tempo e, em seu lugar, uma inusitada calma permitia que eu observasse o caminho... Cores. Sons. Aromas. Impressões. Sensações. Rostos. Andares. Alegrias. Tristezas...

Quando saí de casa, pela manhã, não podia sequer imaginar que, no meio do dia, e um dia repleto de afazeres, compromissos, obrigações, estaria caminhando e observando daquela maneira...

Uma tranqüilidade intensa, de algum jeito, foi me embriagando, mas não era uma emgriaguez trôpega, desequilibrada, mas suave, terna, mansa...

E nem sei se a caminhada durou alguns minutos ou muitas horas, mas percebi o crepúsculo surgindo em ritmo outonal e vi com nitidez a diferença entre ele e os do verão recém-findo.

Voltei pra casa praticamente na hora de sempre, mas, não me atrevi a contar essa história a minha esposa... ela não acreditaria, não acreditaria de maneira nenhuma que aquela mulher segurara o meu braço subitamente e que o soltara sem que eu sequer percebesse, e que só caminháramos e observáramos juntos e por algum tempo, e em absoluto silêncio.

Pensei até em lhe referir a diferença que eu descobrira que havia entre os crespúsculos, no entanto, o bom senso advertiu-me do toque romântico de tal revelação e sobre a possível pulga que atrás da orelha dela colocaria...

- O nome dela?

Como já disse, ela não disse nada, nem precisava... mas, daquele dia em diante, passei a perceber cores, sons, aromas, impressões, sensações, rostos, andares, alegrias, tristezas... ao andar pelos lugares.

sexta-feira, maio 13, 2005

Deu certo

A bonita, graciosa e simples Gildásia veio do interior pra trabalhar na casa da Hortência quando tinha dezessete anos e praticamente no mesmo dia passou a ser chamada de Gildinha.

Hortência e Sérgio, seu marido, gostaram logo da Gildinha e ela deles.

Gildinha não terminara nem o primeiro grau, mas era esperta, viva, até mesmo desenvolta pra uma mocinha vinda do interior, e sabia cozinhar, o chamado trivial simples, é claro, mas sabia, e era muito asseada, prendada e cuidadosa.

Sérgio, marido de Hortência, pouco tempo depois, ficou desempregado e passou a trabalhar em casa, valendo-se do computador e da Internet. O que ganhava com o novo trabalho não daria de maneira nenhuma pra sustentar a casa, mas, felizmente, Hortência era funcionária concursada e graduada do Legislativo estadual e ganhava muito bem.

A relação do casal com Gildinha foi se estreitando dia após dia, mais estima, mais consideração, mais afeto, mais intimidade.

Hortência passava o dia todo fora de casa, trabalhando, e a gerência doméstica ficou nas mãos do Sérgio.

O casal tentou convencer Gildinha a retomar os estudos, mas, com muito medo da cidade grande, e por ser muito caseira também, Gildinha não quis enfrentar nenhum curso noturno, nem mesmo diurno. Entretanto, tinha muito apreço pela leitura e Sérgio, paciência e boa vontade. Com esses ingredientes, Gildinha se desenvolvia bem mais do que conseguiria em qualquer escola, mesmo porque conhecemos bem a triste situação do nosso ensino público, quiçá da maioria do privado.

As tarefas domésticas da Gildinha eram até bem suaves porque Hortência não abrira mão da passadeira e da faxineira, assim sendo, tempo para progredir tinha de sobra e mais, Sérgio tinha certas habilidades culinárias e virava e mexia dava uma ajuda à Gildinha.

O progresso social e cultural da Gildinha foi simplesmente fabuloso, e incluiu informática e Internet, e carteira de motorista.

Passados dois ou três anos, já era a grande amiga que Hortência nunca tivera e a grande companhia pra todos aqueles programas que deixavam o Sérgio aborrecido: compras, cinema, lanchinho...

Nas noites de sexta ou de sábado, quando o casal saía, não deixava mais de levar a Gildinha, sempre alegre, ativa.

Não era mais possível, embora recebesse salário e tivesse a carteira devidamente assinada, dizer que Gildinha era uma empregada... nem no quarto de empregada dormia, pois lhe dera o casal o terceiro quarto do apartamento que estava vazio porque, apesar de todo o esforço e de todos os tratamentos, Hortência não conseguia engravidar.

Por fim, mais um grande especialista por Hortência foi procurado e foi taxativo ao afirmar que Hortência não engravidaria.

Depois de mais de dez anos de tentativas fracassadas, o impacto que essa derradeira opinião em Hortência teve, podemos dizer, foi pequeno, não passou daquela derradeira gota que a fez convencer-se de que realmente não engravidaria.

A adoção, que já passara várias vezes pela cabeça do casal, voltou à cena, mas não se sentia o casal ainda suficientemente confiante pra realizá-la. Por outro lado, ela já estava com 34 anos e ele com 36, assim, se deixassem o tempo passar mais, acabariam adotando uma neta e não uma filha, pois uma menina queriam...

Numa daquelas deliciosas noitadas de sábado, surgiu, por causa de uma novela, o assunto: fertilização in vitro, inseminação artificial, barriga de aluguel; e as opiniões fluíam, quando, em certo momento, os três fizeram o mesmo silêncio e trocaram o mesmo olhar. Nada mais foi dito naquela noite.

Hortência não dormiu, nem Sérgio e quando, no domingo, e muito cedo, foram à cozinha pra tomar café, Gildinha já estava lá. O silêncio e o olhar eram os mesmos.

Em dado instante, Hortência murmurou:
- Gildinha...

E ela, respondeu:
- Sim!

Seria feita a inseminação artificial com o esperma do Sérgio e os vinte saudabilíssimos anos da Gildinha cuidariam da gravidez.

E todas as providências foram tomadas e rapidamente. Mas não foi bem sucedida a primeira tentativa, nem a segunda, nem a terceira...

Parecia que a natureza se insurgia contra a artificialidade e, numa tarde de um dia de semana, Sérgio e Gildinha fizeram amor, doce, suave e afetivamente..., e a doçura, a suavidade e o afeto tornaram-se presentes e constantes na vida deles...

Embora temporariamente, tinham os três desistido da inseminação artificial, e a última tentavia acontecera há mais de dez meses, mas, durante o jantar, naquela noite, Gildinha disse à Hortência e ao Sérgio que achava que estava grávida...

Aquele silêncio e aquele olhar ressurgiram, mas, dessa vez, não duraram. Hortência levantou-se e abraçou Gildinha demorada e amorosamente, e os três choraram de felicidade.

Petrina nasceu oito meses depois, linda e saudável, e muito amada pelo papai Sérgio, pela mamãe Hortência e pela mãezoquinha Gildinha, que não tardou a virar Zoquinha...

Mês passado, foi a formatura da Petrina, já é economista, e foi a primeira colocada e oradora da turma, e na foto estão os quatro, como, aliás, aconteceu em todas as fotos dela.

Pouco tempo depois, aposentou-se a Hortência, mas não se acostumaria a ficar, de segunda a sexta, o dia inteiro dentro de casa, e foi fazer um cursinho preparatório para o vestibular de Pscicologia, que sempre foi o seu sonho.

quinta-feira, maio 12, 2005

As premonições do Dadá

Se quiséssemos um retrato que a nossa turma sintetizasse, podíamos tirar uma foto do Dadá.

Alfabetização, digamos, sofrível e praticamente nenhum apreço pelo estudo nem pela leitura, e, nas contas, saía-se bem nas duas operações mais simples e claudicava nas outras duas, mormente na divisão. Conclusão: primeiro, segundo e terceiro graus feitos nas coxas...

Tinha jogo de cintura, era razoavelmente articulado, tendo em conta a formação que tivera, e opinava categoricamente sobre todo e qualquer tema, e, na esmagadora maioria das vezes, nenhum conhecimento tinha. Se fosse a discussão sobre política então!, era bem mais veemente, bem mais enfático, ou seja, a mensagem dele era muito clara: “se estamos nessa difícil situação... vocês são os culpados”.

Também colocava boas pitadas de malícia em tudo que via e ouvia, até mesmo na intenção da babá quando trocava a fralda do neném com um pouco mais de atenção e cuidado! Se visse, então, alguma criança sentada no colo de algum moço ou senhor, falava logo em tara!, em pedofilia!

Era bebedor de cerveja, de cerveja estupidamente gelada.

Vinha pulando do emprego pro desemprego e vice-versa com alguma freqüência nos últimos anos...

No campo religioso, era fã incondicional (esta expressão, melhor que qualquer outra, traduz as convicções espirituais do Dadá!) do sincretismo!

Pra completar, vangloriava-se com freqüência das namoradas que conquistava e traçava e se gabava da fidelidade extrema de sua esposa!

Moral da história, o Dadá nada tinha de excepcional... como não teria qualquer foto de qualquer outro da turma...

Quer dizer, o Dadá nada tinha de excepcional até que as premonições começaram!

Um dia, apareceu com um semblante diferente, não deu nenhuma opinião sobre o que estávamos discutindo quando ele chegou e o olhar olhava não sei nem pra onde...

No primeiro intervalo, afirmou:
- O Jairo vai ser corneado e abandonado pela Sandra...

O espanto foi geral e inarrável.

Jairo e Sandra tinham alguns anos de casados e, se contássemos o tempo do namoro, pois começaram a namorar quando ainda eram adolescentes, podíamos falar em cerca de vinte anos de romance! E a Sandra, uma morena, com o devido respeito, fantástica, esplêndida, maravilhosa, gostosíssima... era apaixonada, muito apaixonada, apaixonadíssima pelo Jairo.

Passado o espanto, geral e inarrável foi a gargalhada. Se fosse outro casal qualquer, a turma até consideraria as palavras do Dadá, mas Jairo e Sandra... impossível. E todo mundo começou a sacanear o Dadá.

Curiosamente, ele não se abalou. Bebeu sua cerveja, pagou e foi embora.

O assunto foi o tema daquela noite, principalmente o nível de babaquice a que chegara o Dadá...

Será que, além da cerveja, algo mais pesado começara a consumir, puro eufemismo, pois os fofoqueiros pensaram mesmo em cheirar ou coisa parecida?!, algo que os neurônios destruísse mais impiedosa e rapidamente?!

Mas, no dia seguinte, tirando alguma opinião de algum retardatário, outro eufemismo!, o assunto Jairo e Sandra já havia sido esquecido..., e a premonição do Dadá, bem como, seus novos e possíveis hábitos de consumo...

Poucas semanas depois, entretanto, o Dinho chegou muito nervoso e nos contou a terrível novidade!

O Jairo estava internado num hospital e seu estado era muito grave. Tentara se suicidar ingerindo grande quantidade de alguma coisa fortíssima..., e a causa da tentativa foi a Sandra. Ele descobriu que ela o estava corneando e, quando ele descobriu, ela simplesmente o abandonou e se mandou com o amante...

O mais equilibrado de nós todos estava atônito, abalado com a notícia...
- Mas como?! como?!, era a pergunta que todos fazíamos...

No meio da balbúrdia, alguém mumurou:
- Dadá...

E o silêncio foi pavaroso. Naquele dia, ninguém mais falou e todos foram embora mais cedo...

Durante toda a semana, o assunto foi a premonição do Dadá que abafou por completo a triste situação do Jairo. Ninguém se lembrava do Jairo, só dava a premonição do Dadá, era premonição do Dadá pra cá, premonição do Dadá pra lá... e mais premonição do Dadá...

Na semana seguinte, o assunto foi o mesmo...

Resumindo, durante bem mais de um mês só deu a premonição do Dadá... E ninguém se preocupou com o pobre Jairo e, nunca mais, ouvimos falar dele...

Mas, encarregou-se o tempo de trazer outros assuntos à baila e a terrível premonição do Dadá foi esquecida...

Meses depois, o Dadá, que também andava sumido, reapareceu, parecia melhor de vida, mas vinha com aquele semblante e com aquele olhar...

Dessa vez, a turma calou logo a boca, sobretudo porque ficamos todos encagaçados... e estava estampada em todas as caras a mesma pergunta: “Qual será a premonição?!”

O desconforto e o nervosismo eram evidentes, e o Dadá não falava...

De repente, ficou de pé e disse:
- O Pereira via ficar duro, durinho da Silva!

- Que Pereira?! perguntou alguém...

- O da Loteria! respondeu um outro...

Um terceiro ponderou sarcasticasmente:
- Porra! que premonição de merda! o Pereira é empregado da Loteria e não tem merda nenhuma!

O silêncio pairou no ar por alguns segundos, até que uma mistura de raiva, ira e vontade de ir à forra começou a surgir... e logo pensamos em linchamento... seria do cacete!... afinal, o cara só tivera uma premonição e fodera a vida do Jairo...

Mas, alguém perguntou ao Dadá:
- Que Pereira?!

E ele, impassivelmente, respondeu:
- Mário de Almeida Guilhermino Pereira Filho.

Esse Pereira era um miliardário que nós conhecêramos quando ele ainda não era miliardário e que sumira dali logo que começou a ganhar dinheiro...

Nós sabíamos do Pereira pelas notícias das colunas sociais e dos cadernos financeiros dos grandes jornais, e pela televisão, e víamos e ouvíamos que os muitos negócios dele iam de vento em popa. O Pereira ficava ainda mais miliardário a cada nova notícia!

Aí, todo mundo riu, aliás, a turma caiu na gargalhada, e a gargalhada foi daquelas que só acontecem em ambientes em que é absolutamente proibido sorrir, quanto mais gargalhar...

o Dadá tinha ficado maluco...

O Pereira tinha tanta grana... tanta grana... tanta grana... que ela não acabaria mesmo que ele ficasse o resto da vida só gastando... ou seja, era financeira, monetária, economicamente impossível o Pereira ficar duro!

A zorra foi tão grande, que só reparamos que o Dadá tinha ido embora quase uma hora depois, e ele nem pagara a cerveja que bebera, o que levou alguém a comentar:
- Tá ficando maluco... mas deve estar ganhando dinheiro!

Uns seis meses depois, o papo e a cerveja corriam soltos quando um mendigo se aproximou.

Com aquela costumeira consideração pelo ser humano, ninguém o notou, e o mendigo ficou por ali, praticamente ignorado.

Mas, o Zé Marcos, com os olhos arregalados, exclamou:
- É o Pereira!

O Pereira da Loteria tinha sido mandado embora e desparecera.

Olhamos em volta e não vimos nenhum daqueles típicos carrões que o Pereira miliardário certamente estaria usando e achamos que o Zé estava surtando...

Aí, o Zé apontou para o mendigo...

E antes que alguém morresse de susto, o mendigo, aliás, o Mário de Almeida Guilhermino Pereira Filho falou, sem nenhuma emoção:
- Meu sócio me deu um golpe, ficou com tudo, me deixou só com a roupa do corpo...

E, é bom que se diga, a roupa do corpo já estava num estado lastimável...

O Pereira perguntou se alguém podia lhe dar um trocado pra beber uma pinga... e, por misericórdia, pagamos logo umas duas ou três, e ele as botou pra dentro sem respirar...

Deu-nos as costas e se foi...

O trauma foi indiscritível, mas não durou muito, o medo o superou, medo... não, o pânico!

Quando o Dadá apareceria novamente? Qual seria a próxima premonição? Quem seria o “felizardo”?

Daí pra frente, o Dadá passou a ser um grande problema e ninguém mais queria conversa com ele.

Bastava alguém dizer que o Dadá ia aparecer por ali que todo mundo se mandava.

Se alguém dizia que o Dadá havia dito algo, ninguém ficava perto pra escutar.

Ficou tão complicada a situação que alguns passaram a ter crises de histeria só de ouvir o nome do Dadá, outros se mudaram e nunca mais apareceram, e teve até um grupo que chegou a pensar em dar um toque no “gerente do movimento da área”, toda área tem um!, pro cara mandar alguém dar cabo do Dadá e, é claro, das premonições!

Bom, eu fiquei no segundo grupo e me mudei pra bem longe dali, e não dei meu novo endereço a ninguém, nem o telefone, e ainda troquei o número do celular. Foi um alívio...

Mas, ontem, quando eu andava tranqüilamente pelo calçadão, aquela buzina começou a tocar bem perto de mim, e tocou a primeira, a segunda e, no terceiro toque, eu olhei. Entretanto, como era um caríssimo e moderníssimo carrão, quer dizer, um carrão que só um verdadeiro miliardário pode ter, eu achei que não era comigo, pois o único miliardário que eu conhecera tinha ficado durinho da Silva.

Todavia, a buzina voltou a tocar e eu olhei de novo, e quase fiquei em estado de choque!, o vidro de uma das janelas do carrão estava aberto e o Dadá, com a cabeça e os braços pra fora, fazia sinais pra mim e gritava o meu nome!

Eu quis correr, mas as pernas não me obedeceram...

A essa altura, o carrão já estava quase parado do meu lado e eu nem tinha mais coragem de olhar, mas o Dadá continuava me chamando, e eu me perguntava nervosamente:
- Por que o patrão não dá logo um esporro nele e o manda sair logo com o carrão daqui? Será que o patrão dele não está no carrão?!

A essa altura, o carrão já estava parado e o Dadá descera do carrão...

Eu senti calafrios, comecei a tremer, tive náuseas... o quadro foi tão impressionante que o Dadá me abraçou fortemente e quase chorando me disse:
- Porra!!! Nunca pensei que você fosse se emocionar tanto ao meu ver...

Meu desespero era tão grande, mas tão grande...que eu estava completamente à mercê do Dadá e ele, gentilmente, foi me levando em direção à porta do carrão que estava aberta...

Não sei nem dizer o que passava pela minha cabeça, aliás, não passava porra nenhuma pela minha cabeça... o vazio e o pânico eram absolutos...

Só fui perceber que a porta do carrão que eu vira aberta e pela qual eu entrara não era uma das da frente e que eu estava sentado no luxuoso banco traseiro do carrão uns quinze minutos depois e, assim mesmo, após ter bebido, e de um gole só, duas ou três generosas doses do excelente scotch que o Dadá havia me dado... e precisei de pelo menos mais duas iguais pra parar de tremer e perceber que o chofer, devidamente uniformizado, estava lá no banco do motorista, e chamava o Dadá de doutor!

Mais uma dose e consegui notar que uma morena, com o devido respeito, fantástica, esplêndida, maravilhosa, gostosíssima... estava com ele...

Mas eu conhecia aquela morena!!!...

E o Dadá percebeu que eu a reconhecera e se adiantou:
- Lembra da Sandra?!

quarta-feira, maio 11, 2005

Que filme!

Nunca um filme tinha sido tão falado, tão badalado, aliás, badaladíssimo...

Todo mundo falava dele, e só maravilhas... fenomenal, genial, sensacional, profundo, instigante, questionador, desafiador, incomparável... e super... e hiper... e ultra... filme do ano e da década e do século e do milênio...
E falavam dele os jornais, as revistas, as emissoras de rádio e tevê, em todas as edições e horários.
E falavam dele crianças, jovens, adultos e anciãos.

Fui ao banco e, na fila, estavam falando do filme.

No a quilo, estavam falando do filme.

Parei pra tomar um café e a moça do balcão puxou papo e me perguntou se eu já havia visto o filme...

Liguei pro telessexo pra desanuviar a cabeça e a mensagem gravada falava do filme e informava que as atendentes sexuais estavam de folga, tinham, mais uma vez, ido ver o filme.

No horário nobre da tevê, apareceu o Presidente, tinha um mensagem à Nação e era sobre o filme, e já apareceu com os olhos cheios de admiração, e estavam assim todos os Ministros, Secretários, Adjuntos etc. etc. etc.

Bem, resolvi me refugiar no boteco, minha ilha de tranqüilidade, e, assim que cheguei, me enchi de espanto, o boteco estava fechado e com aquele papel pregado na porta... Pensei logo que o António, que nos últimos quarenta e tantos anos nunca fechara aquela merda, tinha morrido de uma crise agudíssima de avareza, mas, que surpresa!, ele havia levado a Joaquina pra ver o filme...

Resolvi andar a esmo, e passou uma senhora falando sozinha sobre o filme, e o mendigo da esquina pediu um trocado pra poder ir ver o filme, e o pivete desbocado, deseducado, desprezado, pulava, palhaçava e gritava: “o filme é bom pra caralho... o filme é bom pra caralho...”

Já era noite, então, decidi ir à praia que, com aquela chuva fina, devia estar vazia, e estava, somente um casal aproveitava a solidão, e fui pra bem longe pra não pertubar, mas, pra meu espanto, em poucos segundos, estava o casal na minha frente e perguntando se eu já havia visto o filme...

Fugi dali desesperadamente e decidido a ir ver o filme, mas, como você sabe, não há mais cinemas espalhados pela cidade, agora, pra encontrar um, é preciso consultar um bom mapa... então, achei melhor pegar um táxi e o motorista nem me deixou dizer pra onde eu ia, desatou a falar sobre o filme.

Aquilo me deixou tão constrangido que, no primeiro sinal fechado, abri a porta e saí correndo, mas o policial me viu e correu atrás de mim e, com esse meu estupendo preparo físico, cem metros em duas horas e trinta e seis minutos, foi fácil me alcançar e, tão logo pôs as mãos em cima de mim, me perguntou se eu estava correndo pra ver o filme...

Não sabia mais o que fazer e, como um louco, saí perambulando pela cidade e encontrei uma fila, era fila pra pegar senha pra entrar na fila de espera de um lugar na fila da bilheteria que vendia os ingressos do filme, e todos nessa fila já tinham visto o filme várias vezes.
Consegui uma senha umas cinco horas depois.
Umas dezoito horas depois, consegui entrar na fila de espera.
Mais onze ou doze hora, ingressei na fila da bilheteria.
Mais algumas horas, e comprei o ingresso pra sessão das dez da noite, e fui direto pra fila de entrada, e eram ainda dez horas da manhã...

Face à multidão que queria entrar e à que saía a cada fim de sessão, o tumulto era cinematográfico e os policiais que tentavam organizar aquele caos desciam o cassetete e falavam sobre o filme...

Finalmente, às quatro e quinze da madrugada do dia seguinte, consegui entrar no cinema, literalmente carregado pela multidão.

As luzes da sala de projeção estavam acesas e, quando a minha multidão chegou lá, outra multidão já ocupava todos os espaços.

O que parecia o anúncio de um tumulto indescritível, tornou-se um espetáculo intraduzível, pois, à proporção que as luzes iam perdendo intensidade (ainda acontece isso nos cinemas hoje em dia?!), a escuridão e o silêncio iam se abatendo sobre as duas multidões, e quando o breu tornou-se pleno, não havia mais nenhum som.

E, a cada segundo que passava, o impossível acontecia, a escuridão era mais escura, mais silente o silêncio... não se ouvia nem se via nada, nada, absolutamente nada... e, no instante seguinte, menos ainda... e bem menos ainda um momento depois... e ainda muito menos um átimo após, e, sucessiva, consecutiva, contínua, ininterruptamente, foi assim até o fim.

Que filme!

O ladrão

A iluminação das vias públicas não é, digamos assim, uniforme em nossa encantadora cidade. Em poucos lugares, é possível jogar uma partida de futebol sem nenhum problema, e a qualquer hora da noite; em muitos, anoiteceu, não dá pra ver o que está a um palmo de distância do nariz.

José de tal vinha do trabalho e ia pra casa, e já anoitecera, e ele mora num daqueles muitos lugares.

Como sempre, vinha andando guiado por aquele pânico quase administrado.

Olhava pra todos os lados, trezentos e sessenta graus, e pra cima, porque há bala perdida etc. etc. etc., e pra baixo, porque há buraco, depressão, ondulação, merda de cachorro etc. etc. etc.

Em determindado instante, notou que um outro homem, um pouco atrás dele e do outro lado da rua, quer dizer, do arremedo de rua, também caminhava e na mesma direção.

O pânico quase administrado subiu vários pontos na escala apropriada, mas José de tal continuou a caminhada, ou seja, a quase corrida.

Neste momento, o outro homem atravessou o arremedo de rua e veio para o arremedo de calçada onde José de tal quase corria.

José de tal teve certeza, pela octogésima terceira vez seria assaltado.

Se aproximava da esquina e, quando chegou, dobrou-a instintivamente.

E aí... aconteceu...

Sem saber a razão, José de tal parou e se encostou no muro, puxou a camisa pra fora das calças, botou uma das mãos sob a camisa, com indicador esticado e apontando pra frente, e, tão logo o sujeito apareceu na esquina, voou em cima dele berrando alucinadamente:
- Perdeu! Perdeu! É um assalto! É um assalto! Passa tudo, passa tudo, senão vai morrer! vai morrer! vai morrer!

Depois de ter sido vítima de oitenta e dois assaltados, qualquer um sabe o que faz qualquer ladrão em qualquer assalto, e José de tal sabia!

O sujeito colocou tudo na outra mão do José de tal, e o José de tal gritou:
- Corre, corre, e não olhe pra trás!, se olhar, vai morrer! vai morrer!

Em fração de segundo, o sujeito havia desaparecido.

E José de tal desapareceu também e só apareceu dentro de casa, grudado na porta, sem respiração, com trezentos e quarenta e dois batimentos cardíacos por minuto e quinze graus de temperatura corporal.

Não sabe quanto tempo levou pra voltar ao normal, talvez nunca mais voltasse, mas acabou chegando perto.

Então, acendeu a luz e abriu a mão na qual retinha o butim, e o observou: uma Carteira de Trabalho e Previdência Social surradíssima e em nome de João de tal, uma nota de um real e uma moeda de vinte centavos e uma aliança descascada.

terça-feira, maio 10, 2005

Vocês estavam discutindo o que mesmo?!

Botequim... nem sei mais que horas eram... cada um já havia bebido pelo menos umas dez cervejas, e cada um tem sua marca predileta, além da cerveja, já tinham sido ingeridas várias doses do quente preferido de cada beberrão, que neste quesito os indivíduos esbanjam individualidade também, e surgiu o assunto e o debate: Temos complexo de inferioridade ou não é complexo não?

É claro que debate é eufemismo... o que se iniciou foi uma porradaria verbal incomensurável... pior do que a que sói acontecer quando o assunto é futebol...

Com trinta segundos de “debate”, quase todo mundo berrava e ninguém ouvia merda nenhuma...

Parecia que dessa vez a porradaria não ia ser só verbal quando seu Poli, seu Policarpo, nosso decano, até então absolutamente calado, interveio, e foi perguntando a um e outro:
- O que é que você bebe?!

No começo, era impossível ouvir a pergunta do seu Poli, mas ele insistiu... e perguntou pela segunda, pela terceira... pela décima vez... e, repentinamente, todo mundo se calou... e o seu Poli foi repetindo a pergunta, apontando pra um e outro:
- O que é que você bebe?!

Ninguém entendeu porra nenhuma e até os mais exaltados já pensavam em encher seu Poli de porrada..., e só não o fizeram em respeito ao decanato e, mais provavelmente, porque podia ser a arteriosclerose se manifestando em seu último e derradeiro grau!

Mas o Mário, vaidoso pra caralho, não quis deixar cair no chão a peteca, olhou pra cara do seu Poli e esnobou:
- Cerveja, e você sabe qual é marca!, e scotch, do rótulo preto pra cima...

O Barcelos, pra não ficar pra trás, emendou:
- Cerveja, e a minha marca não é essa merda que o Mário toma e que custa só dois e pouco... e conhaque, do espanhol pra lá...

E foi um tal de “cerveja cheia de aspas e comentários... e vodca russa”, e de “cerveja... e gim inglês”, e de “cerveja... e bourbon”, e de “cerveja... e uma legítima bagaceira portuguesa”, e de “cerveja... e um bom licor italiano”, e de “cerveja... e um verdadeiro vermute francês”, e de “cerveja... e saquê”, e de “cerveja... e áraque”, e por aí foi indo...

Mas seu Poli interrompeu bruscamente e fez uma outra pergunta:
- Quando vocês chegam em casa com a cara cheia, o que é que as mulheres dizem pra vocês?

E a reposta foi geral, imediata, uníssona, e tanto, que até parecia ensaiada:
- CACHAÇA sem-vergonha...

E, antes que o coro prosseguisse, seu Poli veio com outra pergunta:
- Vocês estavam discutindo o que mesmo?!

Essa Cartilha... não sei não...

Essa Cartilha... não sei não... esse negócio de politicamente correto... não sei não... o que será que querem fazer conosco?!
Bem... isso é papo pros expertos... escritores... jornalistas... políticos... sociólogos... e pros entendidos! (estou aproveitando porque não foi publicada ainda a Cartilha!).
Meu negócio é o popular...
Pra começar, o que vai ser da criançada?! Qual há de ser o novo título de “A Branca de Neve e os sete anões”, e quais serão os novos apelidos dos pigmeus?!
E o Bolinha?!, como é que fica?!
E os misericordiosos e sensatos adolescentes com seus maravilhosos apelidos masculinos e femininos?!: Banhudo, Gaguinho, Manchado, Branquela, Rodapé, Chocolate, Banana, Dentuça, Vesgota, Surdinho, Girafa, Almofadão, Chulé, Quinze Pras Três, Ferrugem, Quatro Olhos, Air Bag?!
Devia, mas não me preocupo com as ALTAS AUTORIDADES... ALTÍSSIMAS!!! que vão perder totalmente a identidade porque essa turma sabe se cuidar...
E minha praia é o povão...
Gostaria de saber como é que o Pescoção vai ser encontrado, pelo telefone, depois da Cartilha?!, dá até pra imaginar o diálogo:
- Por favor, gostaria de falar com o ...
- Com quem?
- Com o ...
- Desculpe, mas não há ninguém aqui com esse nome!
E se o ... tiver atendido e conseguir advinhar que o telefonema é pra ele, como é que o Edu vai se identificar?!
- ...! Aqui é o Edu!
- Que Edu?!
- O Edu! o Edu! o Edu!
E o Pescoção vai bater com o telefone na cara do Edu porque o Edu simplesmente não pôde se identificar: “É o Edu Bolão!”, “É o Edu Porquinho!”, “É o Edu do Ranho!”, “É o Edu Tripé!”, “É o Edu Negão” etc. etc. etc.
Lembra até um caso singular, e científico... o do Zarolha... e, depois da edição da Cartilha, casos similares não serão resolvidos!
O Zarolha sempre ficou puto, muito puto, putíssimo da vida com o seu apelido... Cansou de xingar a mãe de todo mundo por causa desse apelido...Quando começou a ganhar dinheiro, e já começou ganhando muito, qual foi a sua primeira providência?!... qual foi?!... é claro... fez a cirurgia e acabou com a zarolhice!
Assim que o efeito da anestesia passou, rasgou a velha agenda e decidiu que faria novos amigos e esqueceria todos os amigos(?!) antigos...
Dali pra frente, foi Artur pra lá, Artur pra cá...
O Artur fez até uma viagem à Europa pra celebrar...
Mas, depois de uma semana de viagem, e era pra durar dois meses, ele, conforme contou a mulher dele, começou a entristecer e a andar cabisbaixo, começou a ter depressão, a perder o apetite, até o sexual, e sempre teve fama de ser bom nisso... e o quadro preocupou tanto, que eles vieram embora...
Do aeroporto, foram diretamente ao primeiro médico... e, depois desse, a uma porrada de outros, e de um montão de especialidades e de subespecialidades, até craques da medicina ortomolecular e da hiperbárica foram consultados... e nada... tudo continuava ruim pra cacete mas médicos e exames não descobriam a causa...
Só faltava o psiquiatra... e lá foi o Artur... e depois de longos e caros exames, o psiquiatra, visivelmente derrotado, disse-lhe pra procurar um psicólogo... e ele procurou...
Primeira... segunda... vigésima quinta sessão e nada... o Arthur tinha até piorado... a depressão avançara... a falta de apetite era ampla, geral e irrestrita...
Na trigésima oitava sessão, estava lá prostrado no divã o Artur, praticamente mudo, sem passado pra contar, e o psicólogo sem sequer conseguir imaginar o que podia estar ouvindo, então, a secretária do terapeuta bateu na porta e entrou, e lhe disse que só agora conseguira fazer a ligação telefônica que ele tanto queria...
O profissional, Dr. Mário, creio que contrariando todos os cânones do Conselho Multinacional de Psicologia Aplicada aos Traumas Psíquicos Pós-Modernos e Pré-Cartilhianos, desculpou-se com o Artur e disse que era importantíssima a ligação, e que ele não demoraria...
Aí, pegou o telefone e falou, e o fez tentando abafar o que dizia com uma das mãos, e a conversa foi assim, imaginando o que deve ter sido dito por quem estava na outra ponta da linha:
- Adolfo?! é o Mário...,
- Que Mário?
- O Mário..., Mário Alencar Pereira Furtado...
- Quem?!
- O Mário psicólogo....
- Mário Psicólogo?!

E já perdendo a psicológica fleuma, murmurou por entre os dentes:
- O Mário lá da Dias da Cruz... porra...

E nada, não se estabelecia a comunicação, aí, o terapeuta perdeu de todo a paciência e apelou:
- Merda!!! é o Mário Camundongo...

E tudo funcionou...
Apesar do esforço do sujeito, o Artur ouvira tudo, e deu um pulo do sofá, e saiu correndo do consultório, e gritando:
- Heureca! Heureca! Heureca!
Coitada da secretária, tomou um baita susto... mas o Artur nem viu... desceu numa carreira só a escada do prédio... e estava no quadragésimo sexto andar...
Era um novo, aliás, um velho Artur!... feliz... exultante...
Tão logo chegou à calçada, pegou o celular, pensou alguns segundos e teclou um número... ninguém atendeu... e sofrega, ansiosamente teclou outro... quando alguém do outro lado atendeu, ele berrou:
- Pelanca?!

O outro deve ter respondido afirmativamente, e o Artur prosseguiu:
- É o Artur...

E completou com uma ar de prazer indescritível:
- O Artur Zarolha!, caralho!
Bem, apesar da substância desse verídico e comovente caso, não foi ele que me fez externar minha preocupação em relação à Cartilha, pois me preocupo mesmo com o Baiacu!, isso mesmo... com o Baiacu...
Dizem alguns que desde menino o Baiacu é Baiacu porque tem cara de baiacu, mas, se enganam, o baiacu é que tem esse nome porque tem a cara do Baiacu...
Veja só você a situação...
O Baiacu quando fala dele, fala do Baiacu, o pai do Baiacu chama o Baiacu de Baiacu.... e a mãe, e os irmãos, e os avós, e a família inteira, e todos os amigos e inimigos, e até a mulher... e ela até já confidenciou às amigas que, na hora do sexo, o Baiacu adora ser chamado de Baiacuzão, e que ela adora também!!!
Conheço o Baiacu desde molequinho e já estamos com quase sessenta... e sei que ninguém sabe o nome do Baiacu... aqueles mais metidos dizem que o problema é o nome dele... seria tão terrível... que ele virara Baiacu ainda na maternidade... já ouvi falar em Vaginildo, em Culhonaldo, e com “u” mesmo, porque o pai dele até hoje é analfabeto... Mas tudo é história porque ninguém sabe o nome do Baiacu...
Nossa circunspectíssima professora do primeiro ano primário já chamava o Baiacu de Baiacu...
O Mamão serviu no Exército junto com o Baiacu e jura que o comandante do quartel chamava o Baiacu de soldado Baiacu...
Fui ao casamento do Baiacu e o padre, na hora, perguntou:
- Baiacu, você aceita...?!
O rapaz do boteco, auxiliar do António Mão-de-Vaca, chama o Baiacu de seu Baiacu...
E por aí vai...
Agora... se a Cartilha vier, como vai ser?! O que será feito do Baiacu?! O Baiacu será riscado do mapa?!, deixará de ser?!, de existir?!
Como o ... vai conversar com ele mesmo quando estiver diante do espelho?!

segunda-feira, maio 09, 2005

Ah... se eu não fosse malandro...

Peguei o táxi e sentei no banco traseiro, e por uma razão essencial, se você senta no banco da frente, o motorista acha que você quer ser íntimo e conversar, e começa a falar, e nem sempre o papo é agradável...

Disse pra onde ia e que caminho ia ser o melhor, pra evitar supresas taxímetras.

Quando ela fez um comentário... isso mesmo... era ela... vi, pelo retrovisor, que o rosto era uma gracinha... escpichei o pescoço por cima do encosto do banco dianteiro e vi que o peito era de respeito, e que ela estava de saia e com um bom pedaço de suas lindas coxas aparecendo...

Que mania de merda eu tenho, essa mania de sentar no banco de trás sem sequer olhar pro motorista... puta que pariu... nem mesmo uma olhadinha... porra!

E ela era nova, vinte e poucos... e puxei papo... no começo, foi praticamente um monólogo sobre o trânsito... sobre o preço das coisas... sobre a violência... sobre o tempo... sobre vida, família... aí, o monólogo começou a virar diálogo...

Ela hesitou, mas... falou... e começou a falar aumentando rapidamente a emoção... um casamento que não deu certo... uma filhinha pra criar, e sozinha numa cidade como esssa... e vi lágrimas surgirem e inundarem seus olhos...

E a emoção aflorara com tamanha intensidade que ela quase esqueceu de frear quando o ônibus que estava na nossa frente parou no ponto...

Minha mão já estava no ombro dela e o apertava paternal, quer dizer, amantemente, mas disfarçada de paternalmente... e ela acabou botando uma de suas mãos sobre a minha, e o fez com significativa pressão...

Se me perguntarem em que parte do trajeto estávamos, eu não sei dizer...

Como o choro não parava e até já produzira alguns soluços, senti que estava seriamente ameaçada a segurança dos transeuntes, e a nossa, o que, sem dúvida, foi uma convicente desculpa... e perguntei-lhe se não preferia parar, tomar alguma coisa pra se acalmar...

Ela não respondeu de pronto, mas, de repente, lembrou-se que conhecia um bar ali bem perto e fomos...

Só não esfreguei as palmas das mãos porque uma delas não desgrudava do ombro dela.

Quando paramos e ela saiu do táxi... meu amigo... que gata!... mulher quando sai do carro de saia, é aquela coisa... e, nesse caso, que coisa!, e que bunda!!!

O bar era bonzinho... ou seja, não era um pé-sujo...

Pedi uma cerveja, mas ela fez questão de pedir um refrigerante.

Quando o rapaz do bar trouxe as bebidas, embora estivesse perdido olhando pra gata, consegui reparar que a garrafa de cerveja já estava aberta... aí... veio o estalo!!!

Como não havia pensado nisso antes?!...

Como não havia pensado nisso antes?!
Logo eu... malandro da antiga, e ponha antiga nisso... cheio de calçada... cabeça coberta de sereno... como eu não havia pensado nisso antes?!...

Era tudo armação... aquela cerveja devia ter “boa-noite Cinderela” e o cacete a quatro... eu ia tomar a cerveja e um suadouro, e daqueles... iam me deixar nu... imagine só a machete do jornal... malandrão quase sessentão foi depenado e deixado nu, e aquela tarja, quer dizer, tarjinha negra cobrindo-me a genitália...

Que vexame...

Felizmente, malandro que é malandro não bobéia... e não bobeei... inventei uma vibração do celular e dei o fora... que a minha malandragem me havia tirado de uma grande arapuca...

Isso foi há uns dois meses...

Ontem, cheguei mais cedo ao boteco e estava já na segunda loura gelada e ninguém aparecia... aí... chegou o Adelinário... o cara é chato pra cacete... bobão... babacão... não tem sereno nem calçada... deve ter soltado pipa no ventilador e jogado bola de gude no tapete da sala... mas se não tem tu, vai tu mesmo... e o jeito foi encarar o papo com o Adelinário...

Reparei logo que ele estava diferente, não estava aporrinhativo... chateante... com aquele seu costumeiro papo que enche qualquer saco... e nem me deixou falar... começou imediatamente a contar que uma semana atrás pegara um táxi...

Não vou encher o seu saco qual faz com o meu o Adelinário... foi tudo praticamente igual, só que, por absoluta falta de malandragem, ele sentou no banco da frente....

Até o boteco foi o mesmo...

É claro que o babacão do Adelinário não viu que a cerveja já estava aberta, e bebeu a primeira, começou a segunda, e ele nem mesmo de beber como malandro é... e no primeiro copo da segunda já estava tonto e disse a Claudinha... é isso aí... esse é o nome dela... e, então, saíram do boteco... ela perguntou a ele se não se incomodava de ir buscar a filhinha dela na creche... e foram... depois... pra casa dela... e pensei... DANÇOU!... mas ainda não... foi jantarzinho etc. etc. etc., mas o Adelinário é tão babaca que até na hora de falar do etc. se envergonha e fecha o bico...
Segundo ele, que grande otário!, nessa semana, todo dia tem sido assim... casa da Claudinha e ele dando a ela o que ela tanto quer... carinho... atenção... aconchego... e as tais evasivas na hora do etc.

O Adelinário é mesmo um babacão... na certa, a Claudinha já sabe que ele é professor do município, que tem uma única matrícula, que mora num apartamentinho que lhe emprestou um tio e que dá a ex-mulher e aos filhos 70% do que ganha, e está de olho nos outros 30%... e o babacão ainda não viu isso... até confessou que a Claudinha o tem levado e apanhado na escola pra ele economizar o da passagem... mas que bobalhão...

Eu estava no meio desse pensamento quando a Claudinha parou o táxi na porta do bar e buzinou... e lá foi o otário do Adelinário... e a Claudinha estava com aquele sorriso lindo, sensual, carinhoso, feliz, aquele típico sorriso de quem, um dia, ainda vai dar um golpe naquele babacão...

Nem vou contar à turma essa história porque eles vão escalpelar o pobre do Adelinário...

Ah... se eu não fosse malandro...

sábado, maio 07, 2005

Uma cidade, um dia típico

Bum... bum... bum... pápápápápápápápá... ai... ai... ai... tantantam... pápápápápápápápápá... ai... ai... tá... tá... tá... bum... bum... bum... ai.............................................

sexta-feira, maio 06, 2005

Foi no elevador...

Eu já estava dentro do elevador... talvez houvesse espaço pra mais uma pessoa... imagine quantos já não estavam lá dentro, tendo em conta que os elevadores do Avenida Central são enormes... mas... porra... um cara daquele tamanho... é sacanagem... é muita sacanagem... eu não sou bom nesse negócio de estimativa... mas aquela criança tinha bem mais de 2 metros e mais de 150 quilos, e ponha bem mais nisso!... e, é claro, entrou como se estivesse vazia aquela porra... obviamente, ninguém reclamou... já sei!, você vai dizer que reclamaria, que botaria a boca no trombone... eu sei... sei muito bem em que trombone você ia botar a boca... bem, voltando à vaca-fria... o grandãolhãozão entrou, se instalou e cagou e andou pra todo mundo... e nós, as merdinhazinhas, nos apertamos como deu... e ficou tão apertado... mas tão apertado... e eu estava tão preocupado em não incomodar o grandãolhãozão... que nem reparei no bundão que a morena encostou... encostou não!... achatou o bundão no meu experiente órgão sexual (velho... é a p...!)... em qualquer outra circunstância, teria saboreado aquela subida!, junto com a do elevador... mas, não deu... naquelas circunstâncias, não deu... de fato, estava tão assustado com o grandãolhãozão, que só fui tomar consciência do bundão da morena muitas horas depois... e fazia um movimento qualquer o grandãolhãozão, por menor que fosse, e a gente se exprimia ainda mais, e tanto, que quase não dava mais pra respirar... e o elevador sacudia e balançava no ritmo do grandãolhãozão... até que, de repente, o elevador parou e a porta se abriu... só que havia parado entre um andar e outro... e apareceu aquele pedaço de parede branca... bem, eu só vi um fiapo dela porque o grandãolhãozão estava na minha frente (a propósito, por que são sempre pintadas de branco essas paredes?... deixe pra lá...)... quando a tal parede apareceu... porra... foi um verdadeiro terremoto... o grandãolhãozão deu um berro ensurdecedor... foi um urro pavoroso... ato contínuo, esticou lateralmente os braços, e nem precisou esticá-los cem por cento pra colar as palmas das mãos nas paredes laterais do elevador... e começou a gritar feito um louco: SOCORRO.. SOCORRO... SOCORRO... e esse socorro que você está vendo aí em letra maiúscula ampliada não é merda nenhuma diante do berro do grandãolhãozão... e, pior, o puto, quer dizer, o putãolhãozão tremia tanto... tanto... que parecia que o elevador ia despencar a qualquer momento... estava com tanto medo o grandãolhãozão que ninguém mais teve coragem de manifestar medo também... aí... o inusitado aconteceu... uma senhora já bem idosa, bem idosa mesmo, e pequenininha, botou a mão no grandãolhãozão e, com a maior tranqüilidade desse mundo, disse ao cara: “Calma, meu filho, calma, daqui a pouco essa geringonça (pelo termo, calculem a idade dela...) funciona direitinho...”... o grandãolhãozão só não pulou no colo da senhora porque era física, matemática e humanamente impossível... mas a agarrou de um tal jeito que ela sumiu, literalmente sumiu... nem vou falar de nós... a essa altura ocupávamos uma pequeníssima fração daquele espaço... subitamente, se fechou a porta do elevador e a geringonça subiu... nesse momento, o grandãolhãozão teve um espasmo tão descomunal!... tão dantesco!... que quase o elevador explodiu... mas, milagrosamente, nada aconteceu... e, pouco depois, a porta se abriu... e era um andar... tenho absoluta certeza de que o grandãolhãozão nem viu direito o que havia em sua frente... mas deu um salto lá pra fora... e um salto tão rápido e tão forte que o Avenida Central balançou... e no trajeto esbarrou num baixinho que estava quase embutido na botoeira... não deve ter passado de mero esbarro, mas o baixinho... bem, não era tão baixinho assim, mas perto do grandãolhãozão era um pigmeu... mas o baixinho fez uma cara de dor tão impressionante que, apesar da minha evidente alteração nervosa, consegui sentir pena dele... e, ato reflexo, o baixinho berrou pro grandãolhãozão que já estava lá fora, embora ainda oscilasse (um cara daquele tamanho não treme, oscila!) e estivesse esverdeado (coisa de Hulk mesmo!), repetindo, o baixinho berrou pro grandãolhãozão: CAGÃO DE MERDA!... num piscar de olhos, o grandãolhãozão foi do verde encagaçadíssimo ao vermelho irado pra caralho e parou de oscilar, olhou furiosamente pra dentro do elevador e retumbou, fazendo chover torrencialmente cuspe dentro do elevador: VOU DAR PORRADA!... foi a sensação mais estranha que senti na minha vida... e, não tenho vergonha de dizer, me escondi atrás do bundão da morena... e bundão da morena é força de expressão porque naquele momento não era mais do que o único esconderijo disponível e até precário... e o pânico que o enguiço da geringonça não conseguira provocar agora se instalava... e a porta não se fechava... que tormento... quando o fim aterrador parecia iminente... outra vez a idosa e salvadora senhora entrou em ação e, dessa vez, pra nos acalmar, em voz firme e suave ela disse: “Pessoal, calma, fiquem calmos, esse CAGÃO!!! não volta aqui nunca mais”, e o elevador inteiro se mijou de tanto rir... uma boa parte do mijo, sem dúvida, era ainda por causa do medo anterior... e mais uma vez não pude curtir o bundão da morena que continuava no mesmo lugar e, agora, gargalhando escancaradamente...

Aconteceu no sábado

Cinco e tanto da tarde deste sábado soturno... e chuva fina... acabara de acordar daquele vespertino-alcoólico sono, e sob o cobertor... a luz do cômodo estava apagada... cheguei à janela e nem a abri, porque estava frio prum quase sessentão... e o que vejo?!, uma cena banalissimamente comum!... um cidadão envergando a camisa do seu time, garrafa de água mineral na mão, jornal dobrado e preso pelo sobaco e pela trela segurando seu melhor amigo... e seu melhor amigo resolveu dar aquela costumeira cagada justamente ali, na frente da minha casa... e o cidadão amigavelmente começou a observá-lo... e eu os observava... (houve época em que eu enganchava o indicador de uma das mãos no da outra e fazia força... acreditem... funciona... o cachorro não cagava... mas.. a idade me fez ficar com pena dos quadrúpedes... eles não têm culpa...) enquanto observava, pensava... seria mais um daqueles milhares e milhares de montes de merda canina que cidadãos e cidadoas e seus melhores amigos já tinham deixado na minha porta... e até bendisse a chuva porque talvez levasse a merda... mas o cidadão olhou pra janela e me viu... aí, pensei, agora vai virar de costas pra mim e seguir admirando a canina cagada, depois, quando já estiver um pouco distante, talvez me olhe e me mostre uma das mãos com o pai-de-todos esticado e virado pra cima e os outros dedos dobrados!... e o babaca nem ia saber que eu já havia visto esse filme uma caralhada de vezes... mas... pasmem!, neste sábado cinza e chuvoso, após concluir caninamente seu melhor a amigo a cagada, pôs a garrafa e o jornal sobre a mureta o cidadão, e mureta da minha casa, deu um jeito de prender a trela na grade, acima da mureta, circulou em volta, até o perdi de vista por alguns segundos, e retornou com um saquinho plástico, parecia um desses que as farmácias usam, e um pedaço de alguma coisa, empurrou a merda toda pra dentro do saquinho com o tal pedaço de alguma coisa... desprendeu da grade a trela, pegou a garrafa e o jornal e se foi... e levando o saquinho... a essa altura, está você a perguntar : por que ele escreveu e madnou pro meu e-mail essa merda de história neste sábado de merda?!... só pode ser porque está sem merda nenhuma pra fazer e resolveu jogar merda no ventilador, aliás, no computador... calma... calma... eu explico: a camisa do cidadão era do MENGÃO!!! do MENGÃO!!!, vai meu MENGÃO... dá a volta por cima!!!

Rio de Janeiro, 30 de abril de 2005