terça-feira, maio 10, 2005

Essa Cartilha... não sei não...

Essa Cartilha... não sei não... esse negócio de politicamente correto... não sei não... o que será que querem fazer conosco?!
Bem... isso é papo pros expertos... escritores... jornalistas... políticos... sociólogos... e pros entendidos! (estou aproveitando porque não foi publicada ainda a Cartilha!).
Meu negócio é o popular...
Pra começar, o que vai ser da criançada?! Qual há de ser o novo título de “A Branca de Neve e os sete anões”, e quais serão os novos apelidos dos pigmeus?!
E o Bolinha?!, como é que fica?!
E os misericordiosos e sensatos adolescentes com seus maravilhosos apelidos masculinos e femininos?!: Banhudo, Gaguinho, Manchado, Branquela, Rodapé, Chocolate, Banana, Dentuça, Vesgota, Surdinho, Girafa, Almofadão, Chulé, Quinze Pras Três, Ferrugem, Quatro Olhos, Air Bag?!
Devia, mas não me preocupo com as ALTAS AUTORIDADES... ALTÍSSIMAS!!! que vão perder totalmente a identidade porque essa turma sabe se cuidar...
E minha praia é o povão...
Gostaria de saber como é que o Pescoção vai ser encontrado, pelo telefone, depois da Cartilha?!, dá até pra imaginar o diálogo:
- Por favor, gostaria de falar com o ...
- Com quem?
- Com o ...
- Desculpe, mas não há ninguém aqui com esse nome!
E se o ... tiver atendido e conseguir advinhar que o telefonema é pra ele, como é que o Edu vai se identificar?!
- ...! Aqui é o Edu!
- Que Edu?!
- O Edu! o Edu! o Edu!
E o Pescoção vai bater com o telefone na cara do Edu porque o Edu simplesmente não pôde se identificar: “É o Edu Bolão!”, “É o Edu Porquinho!”, “É o Edu do Ranho!”, “É o Edu Tripé!”, “É o Edu Negão” etc. etc. etc.
Lembra até um caso singular, e científico... o do Zarolha... e, depois da edição da Cartilha, casos similares não serão resolvidos!
O Zarolha sempre ficou puto, muito puto, putíssimo da vida com o seu apelido... Cansou de xingar a mãe de todo mundo por causa desse apelido...Quando começou a ganhar dinheiro, e já começou ganhando muito, qual foi a sua primeira providência?!... qual foi?!... é claro... fez a cirurgia e acabou com a zarolhice!
Assim que o efeito da anestesia passou, rasgou a velha agenda e decidiu que faria novos amigos e esqueceria todos os amigos(?!) antigos...
Dali pra frente, foi Artur pra lá, Artur pra cá...
O Artur fez até uma viagem à Europa pra celebrar...
Mas, depois de uma semana de viagem, e era pra durar dois meses, ele, conforme contou a mulher dele, começou a entristecer e a andar cabisbaixo, começou a ter depressão, a perder o apetite, até o sexual, e sempre teve fama de ser bom nisso... e o quadro preocupou tanto, que eles vieram embora...
Do aeroporto, foram diretamente ao primeiro médico... e, depois desse, a uma porrada de outros, e de um montão de especialidades e de subespecialidades, até craques da medicina ortomolecular e da hiperbárica foram consultados... e nada... tudo continuava ruim pra cacete mas médicos e exames não descobriam a causa...
Só faltava o psiquiatra... e lá foi o Artur... e depois de longos e caros exames, o psiquiatra, visivelmente derrotado, disse-lhe pra procurar um psicólogo... e ele procurou...
Primeira... segunda... vigésima quinta sessão e nada... o Arthur tinha até piorado... a depressão avançara... a falta de apetite era ampla, geral e irrestrita...
Na trigésima oitava sessão, estava lá prostrado no divã o Artur, praticamente mudo, sem passado pra contar, e o psicólogo sem sequer conseguir imaginar o que podia estar ouvindo, então, a secretária do terapeuta bateu na porta e entrou, e lhe disse que só agora conseguira fazer a ligação telefônica que ele tanto queria...
O profissional, Dr. Mário, creio que contrariando todos os cânones do Conselho Multinacional de Psicologia Aplicada aos Traumas Psíquicos Pós-Modernos e Pré-Cartilhianos, desculpou-se com o Artur e disse que era importantíssima a ligação, e que ele não demoraria...
Aí, pegou o telefone e falou, e o fez tentando abafar o que dizia com uma das mãos, e a conversa foi assim, imaginando o que deve ter sido dito por quem estava na outra ponta da linha:
- Adolfo?! é o Mário...,
- Que Mário?
- O Mário..., Mário Alencar Pereira Furtado...
- Quem?!
- O Mário psicólogo....
- Mário Psicólogo?!

E já perdendo a psicológica fleuma, murmurou por entre os dentes:
- O Mário lá da Dias da Cruz... porra...

E nada, não se estabelecia a comunicação, aí, o terapeuta perdeu de todo a paciência e apelou:
- Merda!!! é o Mário Camundongo...

E tudo funcionou...
Apesar do esforço do sujeito, o Artur ouvira tudo, e deu um pulo do sofá, e saiu correndo do consultório, e gritando:
- Heureca! Heureca! Heureca!
Coitada da secretária, tomou um baita susto... mas o Artur nem viu... desceu numa carreira só a escada do prédio... e estava no quadragésimo sexto andar...
Era um novo, aliás, um velho Artur!... feliz... exultante...
Tão logo chegou à calçada, pegou o celular, pensou alguns segundos e teclou um número... ninguém atendeu... e sofrega, ansiosamente teclou outro... quando alguém do outro lado atendeu, ele berrou:
- Pelanca?!

O outro deve ter respondido afirmativamente, e o Artur prosseguiu:
- É o Artur...

E completou com uma ar de prazer indescritível:
- O Artur Zarolha!, caralho!
Bem, apesar da substância desse verídico e comovente caso, não foi ele que me fez externar minha preocupação em relação à Cartilha, pois me preocupo mesmo com o Baiacu!, isso mesmo... com o Baiacu...
Dizem alguns que desde menino o Baiacu é Baiacu porque tem cara de baiacu, mas, se enganam, o baiacu é que tem esse nome porque tem a cara do Baiacu...
Veja só você a situação...
O Baiacu quando fala dele, fala do Baiacu, o pai do Baiacu chama o Baiacu de Baiacu.... e a mãe, e os irmãos, e os avós, e a família inteira, e todos os amigos e inimigos, e até a mulher... e ela até já confidenciou às amigas que, na hora do sexo, o Baiacu adora ser chamado de Baiacuzão, e que ela adora também!!!
Conheço o Baiacu desde molequinho e já estamos com quase sessenta... e sei que ninguém sabe o nome do Baiacu... aqueles mais metidos dizem que o problema é o nome dele... seria tão terrível... que ele virara Baiacu ainda na maternidade... já ouvi falar em Vaginildo, em Culhonaldo, e com “u” mesmo, porque o pai dele até hoje é analfabeto... Mas tudo é história porque ninguém sabe o nome do Baiacu...
Nossa circunspectíssima professora do primeiro ano primário já chamava o Baiacu de Baiacu...
O Mamão serviu no Exército junto com o Baiacu e jura que o comandante do quartel chamava o Baiacu de soldado Baiacu...
Fui ao casamento do Baiacu e o padre, na hora, perguntou:
- Baiacu, você aceita...?!
O rapaz do boteco, auxiliar do António Mão-de-Vaca, chama o Baiacu de seu Baiacu...
E por aí vai...
Agora... se a Cartilha vier, como vai ser?! O que será feito do Baiacu?! O Baiacu será riscado do mapa?!, deixará de ser?!, de existir?!
Como o ... vai conversar com ele mesmo quando estiver diante do espelho?!