sábado, agosto 13, 2005

Aproveitando a moda...

Minha querida e mui amada esposa, e dedicadíssima mãe dos nossos filhos, juro, juro de novo e torno a jurar, e com a mão aqui, lá e acolá!, e com todas as letras, vírgulas e pontos!, e com todas as exclamações e interjeições!, e com todas as lágrimas!, e com toda essa expressão de grande vítima que em mim cai tão bem!, juro, eu repito, e cabal e peremptoriamente, que nada soube, que nada sei e que nunca... jamais... em nenhuma oportunidade ou momento... sob nenhuma condição... de modo algum saberei qualquer coisa a respeito dessa tal de Marcela, maravilhosa morena, olhos azuis, 28 anos, 1 metro e 75 centímetros, 60 quilos, manequim 42, um busto rijo, lindo... e cheia de curvas, com uma linda tatuagem na nádega direita, e despeitada, invejosa, fofoqueira, desprezada e mui indigna de crédito; nem sei nada, absolutamente nada do que ela anda dizendo que eu teria feito, realizado, levado a efeito, executado ou praticado com ela... são mentiras, mentiras, e mais mentiras, descaradas, deslavadas, torpes e grotescas mentiras... invenções indecorosas, ignóbeis, abjetas... e não há provas a não ser a testemunhal, aliás, prova que é chamada – e talvez não seja mera coincidência!!! – de prostituta... não há foto, gravação, impressão digital, muda de pêlos pubianos, gota de suor, de saliva ou de..., você sabe!, não há nem mesmo um par de meias ou uma cueca ou uma toalha ou um copo ou um prato ou um cinzeiro que, inquestionável, comprovada e indiscutivelmente – via teste de DNA, apesar de não ser 101% garantido! –, tenha eu usado... não há nada!, nada!, absolutamente nada!

Eu nunca vi essa mulher; nunca a ouvi falando, pedindo, sussurrando ou gritando quando...; nunca falei com ela, nem sozinho, nem em algum grupo ou turma lá da Escola ABC, onde ela leciona, e que fica ali na...; nunca telefonei pra o celular dela, 9989..., nem de telefone fixo, nem de orelhão, nem do meu celular, e se há no meu algum registro de chamada feita por ela, foi certamente um engano; nunca lhe enviei carta ou missiva ou bilhete ou e-mail para muitoamada@..., nem dela recebi nada, e se algo você encontrou, é armação!, é complô!, é manobra da galera interessada em desestabilizar nosso matrimônio, coisa da Elite ou de outra gafieira...; nunca fui à casa dela em Botafogo, à casa da Célia, irmã dela, e 2 anos e 6 meses mais velha, ali em Copacabana, nem à casa da D. Marli, mãe dela, lá no Méier, nem à casa da Patrícia, melhor amiga dela, aqui na Tijuca; nunca viajei com ela para Porto Seguro, nem para Bariloche, nem para Miami; nunca a levei a motel na Barra da Tijuca, a hotel em São Paulo ou a pousada em Búzios; nunca a levei ao restaurante do Munteanu onde ela saboreava o kulibiaka que ele fazia ou ao da Britt que tinha o melhor smörsgasbord, nem a outros tão bons e caros para que ela saboreasse Madrilène, faisão suvarov, bollito misto, fettuccine Alfredo, steak au poivre, vatapá, sushi e sashimi, e, na sobremesa, vacherin, mas só o de pasta de amêndoa, chantilly e frutas frescas, e, depois, o cafezinho, e ‘Tia Maria’ pra ela, e ‘Rémy Martin’ pra mim, e nunca fui com ela a alguma casa badalada, falada ou bem freqüentada para degustar neufchâtel ou roquefort ou fijorland regado a ‘Moulin à Vent’, nem entramos pela madrugada num lugar da moda, ela bebendo Dry Martini – que só podia ser feito com ‘Gordon’s’ e ‘Noilly Prat’ – e eu, meu ‘Johnny Walker’ vermelho; nunca lhe dei jóias, carros ou outros presentes caros, nem buquês, cestas ou braçadas de flores; nunca paguei o aluguel do apartamento dela, nem a luz, o gás, o telefone, o IPTU e o condomínio; nunca lhe disse que a amava, que era louco, apaixonado por ela; nunca declarei que ela era gostosa, sensual, maravilhosa e quente na cama; nunca lhe pedi um beijo, um carinho, um...; nunca deixei que me tocasse, ou abraçasse, ou beijasse, ou...; nunca, mas nunca mesmo, eu juro, fiz amor ou sexo ou sacanagem ou putaria com ela, nem ela comigo...

Não sei quem ela é, nem que desejos, taras e vícios tem... nem se só usa calcinhas pretas... nem mesmo sei se vai à praia ali em frente à Farme de Amoedo, chegando por volta do meio-dia e saindo perto das 15 horas.

E, ad argumentandum tantum, só, apenas, somente, tão-só e unicamente para argumentar, exclusivamente para lhe mostrar a força do raciocínio, não mais que para expor melhor minhas idéias, se a tivesse conhecido ou feito algo com ela, no momento do conhecimento e do fazimento, estaria distante fisica, lógica, oficial e emocionalmente do cargo de marido e de pai, ou seja, uma espécie de licença estaria a me amparar..., e me impediria a cassação do marital mandato...

E mais, veja as datas... e a prescrição?!, e a decadência?!, e o decurso do prazo?!, e o passar do tempo?!, e a caducidade?! etc. etc. etc.

Ah... já ia me esquecendo... pedi e foi-me concedido habeas corpus preventivo!

Um beijo, meu único, exclusivo e eterno amor!

Do seu sério, probo, sincero, honesto, franco e verdadeiro marido eleito pelo seu coração!
Brasília, digo, Rio de Janeiro, 1/7/1

segunda-feira, agosto 08, 2005

Cuidado!

Do jeito que o negócio está indo (para o ralo)... da forma como a coisa vai rolando (na lama)... da maneira como o troço está escorregando (na merda)... do modo como a parada está (des)andando em disparada... do (sem) jeito, da (pro) forma, da (sobre)maneira e do (grosso) modo ou modo (grosso) que a banda está tocando podremente... e com tanto bode, bonde, bala achada e perdida, roubo, rombo farto, furto, extorsão, seqüestro, estelionato, falsificação, peculato, sumiço de documento, emprego irregular de verbas públicas, concussão, corrupção, e passiva, e ativa, e com tanta lista, saque, desvio, caixa dois, e três, e tantos caixas que estão deixando a gente de quatro, cuidado!, muito!, muito!, muito cuidado!, que todo cuidado e mais algum ainda é muito pouco, e há de ser muito pouco ainda todo o cuidado adicionalmente tomado!, e o reserva!, e o substituto!, e o suplente!

Portanto, após tomar todos os cuidados possíveis e imagináveis, impossíveis e inimagináveis, concretos e abstratos, ortodoxos, neo-ortodoxos, inortodoxos e heterodoxos, mesmo quando parecerem paradoxos, depois de se assegurar de estar cautelosamente ao lado da prudência e prudentemente debaixo da cautela, e de ter certeza que tem todas as salvaguardas, todos os salvo-condutos, todas as seguranças indispensáveis, todas as garantias necessárias, todos os foros privilegiados, e de ter em mãos o devido habeas corpus (é gratuito!) preventido e de estar pronto para obter o remediativo - e não esqueça o mandado de segurança, individual e coletivo, e lembre-se do mandado de injunção, do habeas data (é de graça!), e da ação popular -, após tudo isso, cuide, com prudência e cautela, de estudar, perscrutar e analisar tudo e mais alguma coisa, e cuide, por precaução, de adotar algumas cautelas adicionais e de incrementar a prudência!
E mais, cuide de não olvidar que homens e mulheres são iguais, que, se não houver lei obrigando, ninguém é obrigado a fazer ou a deixar de fazer (e, se for servidor público, não esqueça os princípios: legalidade, moralidade etc.), que não pode haver tortura nem tratamento desumano, que é livre a manifestação do pensamento (mas não exagere!), que é garantido o direito de resposta (mas pense antes de responder!), que é inviolável a liberdade de consciência e de crença, que são invioláveis a casa, a correspondência e o telefone, que, gratuitamente, há peticionar ao Poder Público e obter dele certidão, que há direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada, que ninguém tem a obrigação de depor contra si mesmo nem de declarar-se culpado (obrigado São José da Costa Rica!), que ninguém pode ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada do juiz competente etc. etc. etc.

E, em adição e cuidadosamente, trate de não confiar, de não acreditar, de não pôr fé em ninguém, especial e principalmente na sua mulher, na sua amante, nos seus pais, nos seus filhos, nos seus irmãos, nos seus avós, nos demais parentes, nos seus amigos, nos seus colegas, nos seus companheiros, nos seus vizinhos, nos seus pares (e, por precaução, nos seus ímpares também), nos seus correligionários, nos seus eleitores, e nos pregadores da sua religião, da sua seita, do seu credo, e nos seus confessores, nos seus ouvidores, ouvintes e espectadores, e nos seus tesoureiros, camareiros, secretárias, nos seus motoristas, mordomos, cozinheiros, e nos seus bóis, girls, nos seus assessores diretos e indiretos, imediatos e mediatos, próximos e remotos, presentes e ausentes, formais e informais, oficiais e oficiosos, titulares e reservas, e sejam antigos ou não etc. etc. etc.

Tudo isso feito, cuide muito bem os passos que vai dar e nunca cuide que ninguém o está vendo, que ninguém o está ouvindo, que ninguém o está investigando, que ninguém está prestando atenção em você, que ninguém o está seguindo, perseguindo e conseguindo seus dados, fotos, falas, impressões, sensações e informaçãoes, que niguém grampeou o seu telefone, que ninguém clonou seus ouvidos, que ninguém o está espionando, que ninguém está lendo sua correspondência e seu pensamento, e que ninguém colocou microfones e câmeras em sua alma, em sua casa, dentro do seu vaso sanitário, embutidos no seu travesseiro, no fundo falso de sua cueca, em seu escritório, em seu carro ou modernamente escondida na sola do seu sapato ou na barriguilha da sua calça etc. etc. etc., e mais etc. etc. etc.

E não coma, não beba, não ouça, não escute, não respire, não cheire, não apalpe, não toque, não veja, não olhe, não vista, não use, não calce, não ponha, não partilhe nem compartilhe, sem avaliar previamente, tornar a avaliar e avaliar de novo, e não esqueça de comparar o resultado da sua avaliação com o que foi obtido com a contraprova, e com a contraprova da contraprova, e só pare por aqui se o resultado o tiver convencido e persuadido plena, completa, absoluta e totalmente.

Também não cuide desleixada, desmazelada, relapsa, distraída, relaxada e negligentemente do adversário, do inimigo, do competidor, do oponente, do rival, do ex adverso, e de seu patrono, e de seu comparsa, cúmplice, chefe, subalterno, preposto, patrão, empregado, e do nacional, do estrangeiro, do culto, do analfabeto, do brilhante, do tolo etc. etc. etc., cuide-o espertíssimo, vivíssimo, sagacíssimo, inteligentíssimo, malandríssimo, articuladíssimo, dissimuladíssimo, relacionadíssimo, integradíssimo etc. etc. etc., e cuide muito na capacidade que ele possui, na força que ele tem, no poder de que dispõe, nos truques que domina, nas artimanhas que conhece, nas armadilhas que pode preparar, e nunca se cuide mais ladino do que ele, mais preparado do que ele, mais experiente do que ele, por isso, cuide de seus próprios recursos, atributos e qualidades como se fossem inferiores, insatisfatórios, impróprios, inadequados, precários, e trate de melhorá-los, adaptá-los, aperfeiçoá-los, aumentá-los, recrudescê-los, e cuide dos recursos secundários, acessórios, suplementares, e cuide dos alternativos, e dos subsidiários, e, posteriormete, e com bastante cuidado, cuide de outros recursos que possam ser usados caso todos os outros mostrem-se insuficientes, e cuide de colocar algum outro recurso na manga bem cuidada do colete, e não esqueça de esconder alguns coelhos na mágica cartola.

Cuide-se, se cuide e torne a se cuidar!, depois, cuide-se outra vez e prudente, cautelosa e cuidadosamente, e, após, tome alguns últimos prudentes cuidados e derradeiras cuidadosas cautelas, e, a seguir, comece a cuidar de todos os cuidados cuidadosamente tomados, e, posteriormente, faça o mesmo em relação a estes!

Por fim, piscinas olímpicas de água benta, mirialitros de caldo de galinha, e miríades de figas, de fitas, de patuás, de bentinhos, de breves, de simpatias, e reze, reze de novo e torne a rezar!, e não pare de rezar, e consulte, de hora em hora, as cartas, os búzios, seu horóscopo e o serviço de meteorologia, e leve guarda-chuva, capa e galocha mesmo que a previsão seja de tempo bom, e leve um casaco mesmo que a previsão seja de muito calor, e ouça todas as notícias do rádio e veja o noticiário de todas as tevês, leia todos os jornais e todas as revistas, e só saia de casa quando estiver total, plena e completamente seguro e convencido de que não há nenhuma, absolutamente nenhuma chance de não dar tudo certo!