segunda-feira, outubro 24, 2005

Estou dos pés à cabeça convencido…

Estou dos pés à cabeça convencido de que não tem mais jeito, e de que não há mais solução, e de que não encontraremos outro caminho nem sequer mudaremos um pouco o rumo do que estamos trilhando, e de que não vamos melhorar, e de que não..., e de que não..., e de que não..., e mil vezes não!
Dê uma olhada em 'Você acha mesmo que tem jeito?!'.

Por mais que eu busque um pontinhozinho positivo, animador, auspicioso, e até o encontre com a ajuda de um potentíssimo microscópio, por mais que eu descubra, após árdua e criteriosa investigação, um bom exemplo, por mais que eu me depare, depois de suar a camisa, com uma nobre atitude... vem aquela enxurrada, aquela enchente, aquele turbilhão cotidiano de pontos negativos, de maus exemplos, de péssimas atitudes, e aquele pobre pontinhozinho, aquele bom exemplo e aquela nobre atitude vão à letra para o brejo!, ou seja, é uma remadinhazinha bem pequenininha pra frente e um sem-número de remadonazonas pra trás.

Estava de carro e tentava passar por uma dessas nossas ruas onde há escolas e justo, exatamente, precisamente na hora da saída do turno da manhã!, e o tráfego de veículos estava parado de todo, por completo!

E, por mais de 4 minutos, ficou assim, parado, inerte, imóvel!

Depois de uns 30 ou 40 segundos do mais profundo imobilismo, ouviu-se o som da primeira buzina, e veio o da segunda, o da terceira... e, por causa, de tal ruidoso protesto, abriu-se a porta do motorista do carro que impossibilitava o trânsito de veículos. Saltou uma mulher jovem, atraente e bonita. Ela se virou para todos os carros que estavam parados, abriu os braços e bradou com a fibra e a força que toda mãe tem:
- “Estou esperando o meu filho!”

Obviamente ela não estava falando de gravidez! Devo dizer a quem porventura achou o ‘Obviamente...’ presunçoso demais que a calça de jeans adoravelmente justa e a tentadora barriguinha que estava à mostra ajudaram-me a elaborar o ‘Obviamente...’.

E, quando disse ela ‘meu filho!’, a mão instintivamente dirigiu-se ao peito, e tocou aqueles formosos seios!, e ela estava sem sutiã!, e nem precisava usá-lo! E mais uma prova de que não fui leviano ao dizer ‘Obviamente...’!

E a frase dela foi clara, altissonante e muito bem pronunciada, e sem hesitação, e sem tropeço, e sem vacilação. Em um tom contundente, firme e decisivo, a jovem, atraente e bonita mãe reprovou a rumorosa reclamação das buzinas, mas, em seu reclamo não havia raiva nem ódio, não havia revolta nem rancor, só havia lugar para amor, um amor femininamente materno ou maternalmente feminino.

E voltou para dentro do carro ainda mais mulher, mais mãe ainda!

Ela não estava irada nem mesmo zangada, não foi sarcástica, não mostrou uma gota sequer de deboche, não estava sendo irônica, não estava zombando dos que ocupavam os carros parados atrás dela!

Há dizer também que ela não foi agressiva, decidida e determinada nem um milímetro ou um segundo a mais do que qualquer mãe é capaz de ser quando se trata do seu filho...

Ela foi sincera, autêntica, foi mãe, e não deixou de ser feminina nem por um único instante, pois, quando abriu os braços, o fez de forma sedutora e até carinhosa, talvez não nos quisesse abraçar, mas não nos queria repelir, e, ouvindo de uma outra maneira, ela nos disse só:
- “Eu tenho o direito de interromper a passagem de carros por essa rua para esperar o meu filho e vocês não podem chiar!”.

Viram?! Perceberam?!

Quando chegamos a tal ponto, a tal situação, não há mais jeito. Quando se tem tal quadro diante de nós, quando se presencia algo assim, é impossível não perceber que nada mais há a fazer. Quando uma pessoa viola tão óbvia, acintosa e diretamente o direito de outras e acredita cem por cento, talvez duzentos!, estar exercendo um direito que lhe cabe, já era!

E não é pessimismo não, nem desânimo, nem descrença, nem mesmo falta de boa vontade, e nem espírito de porco sou, nem me considero uma pessoa negativa, trata-se só de uma simples e direta constatação: tão essencial, tão profundo, tão arraigado, tão visceral, tão amplo, tão denso defeito, quiçá inato por aqui, não se pode solucionar!, e mesmo que solução houvesse, ela tomaria tanto tempo, demandaria tanto esforço, custaria tanta emoção, tanto esforço e tanto dinheiro, que a falência da espécie humana já teria sido decretada, e é só o que falta!, quando a atingíssemos.

Sinto dizer, sinto muito, sinto muito mesmo, mas... já era!, e nem é preciso falar em furacão, terremoto, tsunami, febre disso, febre daquilo, síndrome A, e B, e C, guerra declarada, guerra que só não foi declarada, a tal guerra da bala perdida que, a cada instante, acha alguém...