terça-feira, maio 17, 2005

CONSTATAÇÃO, NOTA, RECADO e PÓS-ESCRITO

Vou ficar com CONSTATAÇÃO, NOTA, RECADO e PÓS-ESCRITO, e olhe lá!, que não sou louco o bastante pra me atrever a ir mais longe com toda essa gente de peso que anda esmiuçando e comentando a política de quotas para negros e pardos nas universidades brasileiras.

CONSTATAÇÃO
Meu neto, que não é bobo nem nada - depois dessa afirmação, não posso, em sã consciência, deixar de me dizer: “Vai ser coruja assim na ...!” -, já se está declarando pardo em tudo que é festa, encontro, evento, competição, disputa, jogo, pelada, show, pagode, micareta, e-mail, bilhete, carta, memorando, circular, namoro, quer dizer, ficação - é o substantivo que sugiro pra esse lance de ficar!: “tô ficando com Fulana...” -, e passou a exigir que todos os seus amigos e colegas o chamem de Pardão, e que nós, seus ascendentes, o tratemos também desta forma, dizendo, inclusive, “vou chamar o Pardão” ou “o Pardão não está” quando o telefonema for pra ele, e, traduzindo pro nosso idioma a cifrada linguagem da galera jovem, eis a justificativa que ele me deu:

- Não quero passar pela vida em branco!

Sobre o motivo de ter escolhido Pardão e não Pardo ou Pardinho, a explicação é simples: coisa de adolescente!

Mas, por outro lado, ele já me confidenciou que está havendo um baita curto-circuito na comunicação no meio da galera porque surge um novo Pardão a cada instante - é claro, corujice de lado, que não é só ele que não é bobo, e é bem provável que nem seja o mais esperto da turma! -, e cada novo Pardão surge com papel passado e tudo, até o Fredrik, vulgo Fred, virou Pardão e os pais dele, o Björn e a Ingegärd, já ostentam encaracoladíssimas e negríssimas cabeleiras que, segundo os mais exaltados concorrentes, são moderníssimas perucas suecas!

NOTA
Por expressa e irrecorrível determinação do meu neto, já estamos todos, ele e os seus ancestrais dele que por aqui ainda perambulam, usando escurecedores epidérmicos produzidos com células-tronco e enroladores capilares de última geração, mas, por óbvias razões, de usar o enrolador fui dispensado.

RECADO
Você que não é negro nem pardo, mas que também é pobre, subnutrido, esquecido, desprezado etc. etc. etc., e que fez – como eu sou da antiga - o primário, o ginásio e o científico – ou o clássico - em escola pública, que tem mãe, pai, tios e tias desempregados, que é durinho da Silva e dos Santos e dos Santos e da Silva, como não quero ser chulo, frite-se...
Mas, e não sei se lhe vai servir de consolo, quem sabe, daqui a uns quatrocentos ou quinhentos anos, um descendente seu e membro emérito do Movimento dos Não-Afro-Descendentes ouça um formal e emocionado pedido de desculpas e seja beneficiado por uma política de quotas nas universidades brasileiras para os que não são negros nem pardos!?
E reze pra que não fique a coisa ainda mais dessa ou daquela cor daqui pra frente, e escolha você a cor porque não quero ser acusado de ser politicamente incorreto!

PÓS-ESCRITO
Quotas... Cartilha... Estatuto da imprensa... Estatuto do cinema...