quinta-feira, junho 02, 2005

No meio de um papo, surgiu a juvenília

Outro dia, no meio de um papo, surgiu a juvenília, e fiz um baita esforço para saber do que se tratava, para ver se atinava com algo que me pudesse ajudar na testilha, e, por alguma razão, lembraram-me a Cecília, maravilha da vizinhança cujo pai era de Sevilha, aquele bafafá em família por causa de uma tal partilha de mobília de sala, a lanterna de pilha com a qual iluminei o que havia por baixo da saia da filha da dona Emília, e deu a maior merda, e aquela enorme quizília por causa da “Queda da Braguilha” que quase fez cair a bastilha da Marília no vão debaixo da escada; mas, de juvenília, nada...

Veio à memória o “selo, carimbo, estampilha” em quem aparecia com o cabelo cortado, e passaram bem na minha frente: bafo-bafo; pêra-uva-e-maçã; pipa; e bolas, de gude, de meia, de borracha, de couro; pique-baixo; pique-cola; rolimã com rodas de bilha descendo a ladeira; carniça, mas vá escrever carta pra namorada na p...; mas, de juvenília, nada...

Lembrou-me aquela forquilha... ainda bem que deu errado e o sorveteiro era gente boa; mas, de juvenília, nada...

Surgiu quase o mesmo tesão - desculpe-me o exagero! - que me tomou quando surpreendi dona Lília coçando a virilha, e por cima da saia... mas, de juvenília, nada...

Passados alguns refrigeradores minutos, cogitei até daquelas vasilhas bem areadas que povoavam a cozinha, pensei no cozimento da lentilha que iluminava as redondezas com seu cheiro, nas tortilhas, especialidade da dona Soledad, naquelas ervilhas verdes e brilhantes que eram cozidas e iam, depois, ao forno com ovos por cima, e no sorvete de baunilha que só aparecia em dia de festa, mas, de juvenília, nada...

Recordei até aquelas pastilhas de um certo inseticida, creio que eram esbranquiçadas, que se queimavam e cuja fumaça matava baratas, pulgas, mosquitos, bem como, cachorros, gatos, pássaros e tudo mais que ficasse dando sopa por ali... mas, de juvenília, nada...

Lembrei de festa de São João, fogueira, batata-doce na brasa, quentão e quadrilha... mas, de juvenília, nada....

Visualizei as armadilhas pra caçar passarinho e, logo a seguir, a primeira presilha de sutiã que abri, Otília, já com muitas milhas, e delicada, professoral..., e quase tornei a sentir a gonorréia, depois, algo causado por monília, e o chato... mas, de juvenília, nada...

Retumbaram na mente, a seguir, Juscelino, Lúcio Costa, Oscar Niemeyer e Brasília... mas, de juvenília, nada...

Tornei a ouvir a notícia sobre a Baía dos Porcos, a tentativa de invasão, e, no ano seguinte, o bloqueio com flotilhas e esquadrilhas... mas, de juvenília, nada...

Mais tarde, revivi as vigílias na esquina que varavam a madrugada, e no meio da matilha, coisa de homem, e com cerveja e cigarrilha, hábitos já antigos... mas, de juvenília, nada...

Revirei no bestunto as anotações de uma velha apostília... mas, de juvenília, nada...

Por fim, esgueirei-me e saí silenciosamente e fui folhear meus velhos e inéditos escritos, contos, crônicas, versos...