segunda-feira, junho 06, 2005

Como não sei bem do que estou falando, é melhor não botar um título

Nada mais me surpreende e ainda fico surpreso com tudo; cambaleio - amparado pelas deliciosas mãos da fogosa, a filha-do-senhor-do-engenho – ao sabor do reumático estalar de meus vetustos dedos que se recordam das teclas da Underwood 5 - 1915 e se intimidam com o plac-plac-plac do moderníssimo teclado do computador pessoal 2005, modelo 2006, Mega-Hiper-Super; perco-me nas entrelinhas da velha e amarelada Gramática e me atrapalho com o novíssimo Corretor Multiortográfico que se exibe em tecnicolor; tento ler as mensagens escritas com límpida fumaça e enviadas pela turma de uma velha taba que ainda não está extinta e vago por entre e-mails embaçados que me mandou uma tribo nova que quer extinguir-se; olho concupiscentemente o, digamos assim, equipamento sentador da moça e fecho os olhos para lembrar do tempo em que a concupiscência não era matéria predominantemente visual; estico-me para tentar apanhar uma idéia num turvo e trôpego espaço mental e mentalizo turva e tropegamente um esticamento para alcançar espacialmente alguma idéia; abraço a lógica ortodoxa da tradicional escola vila-mimosense e pasmo das bromélias heterodoxas que inovam e entram de sola na madrugada cheia de silicone; defendo compulsivamente o sincretismo (ecletismo?!) ético-cultural e não largo o purismo de padrões sócio-morais cuja relevância é, no mínimo, discutível; me apóio na coluna vertebral de uma mulata sensacional e tento mergulhar na mais profunda depressão lordosiana sem me abismar com a queda, mas, nada feito, a viagem do metrô é muito rápida; peço uma loura gelada e um torresmo e fico tonto diante da efusiva manifestação de solidariedade que não recebo da turba que desconhece a importância histórico-reprodutiva do boteco; me entrincheiro nos bastidores de um culto ecumênico e vejo um programa de sexo explícito que seria impossível entender sem a ajuda da legenda; saco a minha pistola de raio laser e opero a catarata da galera que não consegue vaga na rede pública mas sou autuado em flagrante por ter praticado um crime contra a estupidez da espécie humana; faço um comício trancado a sete chaves no banheiro e sou vaiado por um vizinho retrógrado que acha que o banheiro deve servir unicamente a algum objetivo higiênico-sanitário e que, por certo, nunca “leu” uma revista de sacanagem sentado no vaso; cantarolo um jingle de um produto que há de revolucionar a cadeia produtiva e produzo uma celeuma que pode abalar a produção de insumos necessários à expansão das cadeias para os que teimam em não produzir; sacudo os arautos da verdade que vivem dizendo que o fato não resiste à interpretação convincente e levo uma sacudidela do passageiro que estava ao meu lado porque cheguei a babar em seu ombro enquanto cochilava; penso em botar pra fora o membro, o que não parava de se manifestar na reunião do conselho, e, segundo o conselho da senhora que não tira os olhos dos membros, eu devia me preocupar com os membros que já não conseguem mais se manifestar; tenho de achar em meus refolhos a forma de fazer uma nova áfrica a cada segundo para não me perder pelo caminho e perco a tramontana toda vez que creio ter encontrado a maneira de resolver essa américa de asiáticos problemas que surge na minha trilha; já não fico surpreso com mais nada e tudo ainda me surpreende tanto!